quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sobre o sentimento dos italianos dentro do Cruzeiro.






        No longínquo início do século XX, alguns italianos, incentivados pelo Consulado da Itália, resolveram fundar um clube onde poderiam se encontrar, conviver e reviver as tradições e costumes do país que deixaram para trás quando para o Brasil vieram. Havia ainda a necessidade de se manter o senso de Nação Italiana, tão carente em alguns oriundi que aqui chegaram quando a Itália ainda engatinhava como país recém unificado e formado.
        A fundação da Società Sportiva Palestra Italia foi feita sob o escopo de manter e preservar o que poderia ser perdido quando misturado com a cultura da cidade que recebia o povo italiano, que para cá veio construí-la.
        Logo após a fundação, o Palestra foi bombardeado com ilações diversas, como “time de estrangeiros”, “gente que não se mistura” entre outras pechas. Com o tempo mostramos o que éramos e somos: uma gente amiga, trabalhadora, pagadora de impostos e que cultiva a amizade e a paz.
        Em 1942 o Brasil declara guerra aos países do “Eixo” e é exarada uma lei que obriga as instituições de origem italiana, alemã e japonesa a mudarem seus nomes, caso fizessem alusão a seus países. O Palestra Italia é obrigado a mudar de nome e adota como nova identidade o símbolo máximo da República Brasileira, o Cruzeiro do Sul.
        Não foi uma mudança tranquila, pois, muitos aproveitaram tal momento para extirpar do meio Cruzeirense, a influência da Comunidade Italiana que fundara o velho Palestra. Os velhos italianos, seus filhos e também netos, reagiram com bravura, preservando, às vezes no braço, o legado dos pais fundadores de 1921. Muitos italianos tiveram suas padarias, lojas, comércio de material de construção e outros negócios, destruídos pela turba insuflada por uma propaganda odiosa, incentivada por muitos concorrentes que viam no quebra-quebra, a possibilidade de extirpar um concorrente poderoso devido a sua laboriosidade. Atos covardes foram perpetrados contra a comunidade italiana que viu, no seu Palestra Italia, a última fronteira a ser defendida. Assim nasceu o Cruzeiro estampado na “maglia azurra” que recorda a seleção nacional italiana.
        Coube a outro italiano ilustre, já em tempos de Cruzeiro, catapultar nosso time de colônia aos píncaros do futebol mundial. Na década de 1960 coube a Felice Brandi a missão de modernizar nosso Clube e dar um salto de qualidade em relação aos mais importantes times do eixo Rio-São Paulo. Começamos massacrando o Santos de Pelé e em seguida ganhamos as Américas conquistando a Libertadores. Tivemos a ousadia de enfrentar de igual para igual a poderosa seleção tedesca, campeã mundial em 1974, vestida com o uniforme do Bayern de Munique.
        Em tempos mais recentes, diversas administrações trouxeram sobrenomes italianos em suas composições e dentro dos Conselhos Deliberativo e Fiscal. Tempos de paz e concórdia levaram o Clube, apoiado em suas origens e tradições, a glórias memoráveis!
        Recentemente, a lembrança de que tais origens e tradições estão sendo esquecidas, provocou a insatisfação por parte de muitos dentro do Clube. A máxima de que “o Cruzeiro não é mais um time italiano, é um time do mundo” grassa, erroneamente, pelos corredores da sede administrativa. Neste ano a Bandeira da Italia foi proibida de entrar em campo com os Palestras...
        É sempre bom relembrar que, não se apaga um sobrenome, a não ser que haja algum grande perigo iminente. Muda-se um nome, mas não se muda uma História! Bom relembrar também que todos nós temos uma origem, brasileira, italiana ou qualquer outra. Todos nos orgulhamos muito de nossas origens e as valorizamos muito. Tentar apagar um sentimento, principalmente de origem, sangue e coração é um erro crasso.
        Esperamos que tais tentativas de travessia do Piave, já tentadas de outras vezes infrutiferamente, não prosperem e sejam fruto de uma triste coincidência. Os italianos do Palestra/Cruzeiro sabem transigir pelo bem do Clube, mas sabem também esperar sua vez, afinal, como era comum dizer à época da fundação do Palestra sobre os italianos: “O bom sangue não mente!”

2 comentários:

  1. Ótimo texto Anísio! O Palestra jamais pode esquecer suas origens, tente influenciar a diretoria para que essa tradição não se perca. "Eu nasci Palestra sou Cruzeiro, e como galinhas no jantar..."

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