Dia
24 de maio de 1915 o Reino d’Italia declarou guerra ao Império Austro-Húngaro.
Enquanto o Rio Piave murmurava, o Regio Esercito se deslocou para as fronteiras
com o inimigo e começaram os combates. Logo começaram as mortes de soldados dos
dois lados: o primeiro italiano que tombou foi Riccardo Giusto, um soldado Alpino,
de apenas 20 anos de idade e nascido em Udine. No próprio primeiro dia de
Guerra, começava a matança de jovens que acorriam aos postos de recrutamento
para se alistarem.
Aqui também,
em Belo Horizonte, assim como em todo o Brasil, muitos jovens descendentes, e
mesmo imigrados italianos, correram para os Consulados Italianos para se
alistarem e poderem lutar por sua Pátria europeia. É bom lembrar que os
descendentes de italianos possuem ao nascer o direito à Cidadania Italiana. A
cidadania vem pelo sangue e não pelo locar de nascimento. Assim sendo, qualquer
filho ou neto de italianos, ao nascer aqui no Brasil, se torna brasileiro por
nascimento e italiano por sangue.
Na verdade,
os jovens ítalo-descendentes não tinham a obrigação de se alistarem, mas o fato
de se ganhar uma passagem para a Itália, mexeu demais com a cabeça da rapaziada
oriundi. Muitos conheciam a Itália apenas pelas estórias contadas pelos avós e
pais, A Guerra trazia a oportunidade de realizar o sonho, às vezes tão
distante, de conhecer a terra dos ancestrais. Aliado a isto, havia ainda o
espírito de aventura, participar de uma guerra! A mobilização da comunidade
italiana foi tão grande, que muitos jovens viam no alistamento, a oportunidade
de se valorizar perante seus co-nacionais. O fato de se alistar, transformava o
jovem imediatamente, em um herói da comunidade italiana. Foram muitos os
atrativos. Foram muitos os que foram. Foram muitos os que não voltaram...
Durante
muito tempo, a história desses bravos e valorosos rapazes ficou guardada nas
conversas familiares. Muitas famílias, inclusive a minha, sabiam desse fato
ocorrido no início do século XX. Mas a Historiografia Brasileira não sabia.
Segundo o que aprendemos nas escolas, o Brasil declarou guerra às potências
Centrais em 1917 e mandou uma ajuda aos aliados ocidentais. Mandou uma missão
médica com 100 profissionais de saúde para Paris, onde doou um hospital para
curar feridos de guerra, 13 oficiais pilotos para combaterem pela Real Força
Aérea Britânica e navios para que combatessem no Mediterrâneo. Não sabia que o
Brasil enviou 12.500 soldados para combater os austro-húngaros no nordeste da Itália
usando o uniforme italiano.
Bem,
informação não é coisa para Historiador guardar. É para ser divulgada. Pensando
nisto, no Centenário do início da Primeira Guerra Mundial, tive a ideia de
contar tal História. Aproveitando a vinda do Professor Emilio Franzina,
renomado Doutor em História e especialista em Imigração Italiana e Primeira
Guerra Mundial, combinamos, enquanto tomávamos café na casa do também renomado
Professor Girolletti, de escrevermos um livro sobre tal assunto. Ele faria as
pesquisas na Itália e eu faria as pesquisas no Brasil.
Assim nasceu
o livro “Entre duas Pátrias - A Grande Guerra dos Imigrantes Ítalo-Brasileiros,
1914-1918”.
É um livro
que elevou o Brasil de categoria entre os países combatentes na Primeira Guerra
Mundial. Também conta as histórias de jovens, reproduzindo cartas do front,
histórias extras que são muito similares a de jovens de outros países que
combateram, principalmente os Estados Unidos, que tiveram cidadãos lutando com
uniformes de países europeus, que viraram livros famosos e depois filmes, como Adeus
às armas ou Fly boys.
Bem,
recomendo a leitura, principalmente para quem curte História militar ou goste
de ver como, acontecimentos tão distantes, estiveram tão perto de nós um dia...
Boa leitura!