sábado, 7 de julho de 2012

Como os clubes ganham e como gastam dinheiro?

     Uma boa pergunta para tentarmos responder é a do título deste post. Não tenho a pretensão de esmiuçar contas e contratos de clubes e muito menos do Cruzeiro, o time do qual faço parte do Conselho Fiscal. Mas acho que uma pequena explanação com a ajuda das figuras abaixo ajudarão ao meu leitor a entender um pouco mais sobre a realidade financeira dos clubes de futebol e vão diminuir (?) as constantes discussões sobre quem está bem financeiramente e quem está quebrado.
    Primeiramente vejamos como ganham dinheiro, o que a figura abaixo demonstra com muita clareza em relação à maioria dos clubes brasileiros:



     E o Cruzeiro? Como se distribuem as arrecadações de valores em nosso Clube? O ano passado está representado pela figura abaixo, que nos leva a tecer algumas considerações, sendo a primeira que o aumento das receitas televisivas. A exemplo de todos os outros clubes tal receita passou a ser a menina dos olhos de nossa arrecadação, sendo que estamos acima da média nacional. Também diferenciamos do percentual nacional no que se refere a patrocínio e marketing. No nosso caso, verificamos que as receitas de nosso clube social (escolinhas, festas, pagamento de mensalidades de sócios entre outros) rivalizam com o percentual de marketing. Possuímos uma diretoria comercial e um departamento de marketing muito dinâmicos e com pessoas capazes, o que nos leva a esperar que tais valores entrem, pelo menos, na média nacional.
     Merece destaque no gráfico acima a queda das receitas advindas da venda de jogadores ao exterior. Nossos últimos presidentes sempre tiveram como princípio administrativo, e por muitos anos deu certo, que a venda de jogadores era a maneira que tinham de manter as contas do Clube em dia. Há muitos anos o Cruzeiro figura no rol dos maiores exportadores entre as empresas de Minas Gerais.Está entre os cem maiores captadores de moeda estrangeira do estado.
     Em 2008, último ano do mandato de Alvimar, explodiu a crise financeira mundial que abalou tremendamente os mercados mundiais, obrigando a várias empresas que revissem suas atividades e maneiras de faturamento. Quem muito exportava sentiu mais o baque da crise. No início de 2009 alertei nosso presidente Zezé sobre tal panorama, mas acho que nossos administradores não acreditaram de imediato.
     Países como Irlanda, Grécia, Espanha e Portugal foram os mais afetados. Nosso maior mercado importador sempre foi Portugal... Times de outras praças poderosas como Italia, Inglaterra, França e Alemanha passaram a investir somente em verdadeiros valores, diminuindo muito as apostas em futuras revelações como acontecia anteriormente.
     Fala-se muito da diminuição de bilheteria no total das arrecadações do Cruzeiro como a grande vilã dos prejuízos recentes no balanço. Eu entendo que prejudicou sim, mas não tanto como apregoam. Na minha visão o que mais prejudicou nosso Clube foi o fato da fonte de recursos oriunda da venda de jogadores ao exterior ter secado. Basta verificar a série histórica no gráfico anterior. As rendas de bilheteria tendem a melhorar bastante com o retorno a Belo Horizonte e com o incremento do sócio do futebol. Porém vejo que há ainda um potencial muito grande de crescimento no que tange ao nosso programa de sócios torcedores que ainda está muito tímido.
     Um ponto fundamental que está sendo trabalhado a fundo pela diretoria do Cruzeiro é a valorização das divisões de base e a revelação de jogadores em nossa própria casa. Neste ano já subimos três jogadores e, até o final do ano, chegaremos talvez a cinco jogadores criados na fantástica estrutura da Toca da Raposa I.   Um excelente resultado devido ao trabalho incansável de nosso Vice-presidente Márcio Rodrigues com a assessoria do Conselheiro Bruno Vicintin e as orientações de Alexandre Mattos e Raul Plasmann. É mais barato e viável criarmos nossos craques, do que comprarmos jogadores de resultados duvidosos. 









     Quanto às dívidas, precisamos lembrar que há uma grande tradição e até entendimento entre o público em geral de que não devemos nos preocupar com elas em nossos clubes, pois seriam impagáveis e que ninguém gosta de cobrá-las. É quase um consenso, mas a história recente nos mostra que tal entendimento deverá cair por terra à medida que a sociedade não mais aceitará a existência de ilhas de exceção no meio de um oceano de empresas e instituições castigadas pelo peso dos tributos e dos juros bancários.
     Exemplos de tal história estão espalhados por aqui e ali e até o mais incauto observador pode ver que o círculo se fecha sobre os mau pagadores. Atualmente o clube que não arca suas obrigações trabalhistas, principalmente no que tange ao FGTS, pode perder seus craques que recebem o passe livre caso aconteça tal inadimplência.
     Para reverter o problema da inadimplência tributária o Governo Federal, em conjunto com a Caixa Econômica Federal, desenvolveu a Timemania que tem como fulcro amenizar as dívidas dos clubes. O grande problema é que tal loteria não caiu no gosto popular e não tem arrecadado tanto. Se os torcedores soubessem a importância de tal loteria na vida de seus times, com certeza a arrecadação seria muito maior e as amortizações das dívidas seriam mais eficientes. É bom lembrar que o clube que se beneficia da Timemania, se continuar a pagar suas obrigações tributárias em dia, obtém suas certidões positivas, com efeito de negativas, junto aos órgão federais e passam a poder obter crédito bancário e patrocínio de entidades públicas, as famosas empresas estatais. Podemos lembrar do caso do Flamengo que perdeu o patrocínio da Petrobrás e do Cruzeiro que possui o patrocínio da CAIXA nas sua equipe de atletismo: um não possuía as certidões quando da renovação do contrato de patrocínio e o outro possuía. Mais uma prova que dever, e não pagar, não é tão bom negócio assim.
     Como o Cruzeiro está com suas dívidas federais equilibradas e parceladas, em um futuro muito próximo a Timemania passará a pagar ao nosso time pela sua participação nos sorteios ao invés de reter os valores para quitar os parcelamentos. É sempre bom lembrar que, com a Timemania quitando os parcelamentos, os recursos que usaríamos para tal fim são destinados para o Clube em outras despesas/investimentos.




     Com o advento dos novos contratos de televisão, surgiu em cena um personagem do mundo financeiro e bancário muito conhecido entre as empresas em geral: a antecipação de recebíveis. Os Clubes estão procurando os bancos para que antecipem as parcelas do contrato de televisão e estão conseguindo sair das mãos dos empresários e financistas aos poucos. Com um bom contrato, por um bom período de parcelamento, uma excelente garantia como a anuência da Rede Globo e juros mais palatáveis, o caminho das agremiações é o do trocar benfeitores (?) por casas bancárias. Entretanto, os bancos não têm a paciência que os particulares têm, exigindo os pagamentos em dia e que os compromissos sejam cumpridos, ao contrário dos particulares, que, com os juros escorchantes cobrados, preferem ver as dívidas se arrastarem. Ter crédito bancário é bom, mas exige responsabilidade por parte dos dirigentes. É mais um exemplo que os Clubes deverão deixar de lado a tradição de mau pagadores, pois o cadastro dos clubes é fundamental para a concessão de crédito. Bancos emprestam de acordo com o rating de crédito de cada cliente e, com balanços tão pífios, o crédito se restringirá a poucos clubes, se nada for feito. Bancos como o BMG, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil estão nadando de braçadas fazendo excelentes operações de crédito com os clubes sérios e bem administrados. Os mal administrados estão nas mãos de ex-presidentes, ex-diretores, empresas particulares de torcedores ilustres entre outros mecenas (?).



     Dever não é vergonha, o vergonhoso é dever e não pagar. Uma empresa que utiliza bem o crédito é bem avaliada no mercado financeiro, pois seu comportamento como pagadora pode ser avaliado à medida que honra seus compromissos.

   



     Como está a situação econômica do Cruzeiro? Bem, graças a Deus e a nossos administradores que não caíram no canto da sereia do calote fácil. Os gráficos acima mostram que o Cruzeiro se destaca positivamente entre os menores devedores e tem muito campo a crescer no que tange às receitas.
     Está nas mãos de Gilvan e sua diretoria a escolha do caminho a seguir daqui para a frente, uma vez que a fonte de receita de vendas de jogadores está secando. Particularmente acho que estamos no caminho certo, desenvolvendo as outras fontes de receita e revitalizando nossa vitrine no comércio exterior com parcerias saudáveis e rentáveis. Depois de anos rejeitando sua origem italiana, o Cruzeiro retorna à Península Itálica se apresentando aos grandes players italianos e fazendo parcerias com equipes de porte médio. O Vice-Presidente Márcio Rodrigues está cuidando muito bem desse assunto assim como da revitalização de nossa divisão de base.




Ilustrações (1) e (3) Blog do Urubu, (2) Olhar crônico esportivo (4) e (5) Lancenet

8 comentários:

  1. Bela aula! Vale também citar o caso do Ronaldinho Gaúcho no Flamengo! Neste caso o particular, a Traffic, não quis mais bancar o jogador e a enorme dívida ficou com o clube! Essas desistências devem se tornar mais frequentes! Por outro lado, os bancos, mesmo mais impacientes, normalmente cumprem com suas obrigações!

    ResponderExcluir
  2. a area financeiraq não é a minha area.A diretoria anterior apostava muito em jogadores novos em idade e que pudessem estourar no Cruzeiro e serem vendidos com um lucro muito grande.Nesta politica conseguiu revelar muitos jogadores que assim que faziam sucesso eram vendidos e este dinheiro mantinha o time.
    De alguns anos para cá muitas destas apostas não deram certo talvez o Dimas tenha culpa nisto , não posso afirmar.Ao mesmo tempo o Cruzeiro tinha um percentual menor em jogadores vendidos e a receita com as vendas caiu muito.
    Com a reforma do mineirão tambem tivemos um aumento nas despesas e uma queda da arrecadação.Em compensação houve um aumento nos patrocinios e nas cotas de TV.
    Ou seja a arrecadação esta tendo grandes mudanças.o socio torcedor vem aparecendo como uma nova fonte e tudo isto tem que ser bem gerenciado pra manter a saude financeira.é um trabalho que não aparece muito para o publico mas que tem que ser muito bem feito.
    Parabens pelos seus textos.
    @dandancoelho

    ResponderExcluir
  3. O Vinícius questionou algo pertinente no twitter, Anísio.

    Por que o Cruzeiro não inclui no balanço os números de provisão e contingência, como a maioria dos outros clubes fazem?

    http://globoesporte.globo.com/platb/files/747/2012/06/Captura-de-tela-inteira-29062012-145800-e1341080957251.jpg

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Ricardo, não fazemos provisão porque não há demanda. Não há processos contra o Cruzeiro que podem se reverter em grandes prejuízos, então, não há razão de se provisionar. Um abraço.

      Excluir
  4. Bom demais. Importante a saúde financeira, logicamente. Mas, futebol?! Nosso presidente não pode ver o time mal-escalado (como está) e ficar quieto - vendo a banda passar.
    Temos de ter técnico com a cara do Cruzeiro, que jogue pra frente. Que indique "novos talentos" (de verdaaade) e que faça o nosso time ser forte - como sempre foi.
    Não pode um treinador "escolher" errado e depois dizer que o problema forama as "escolhas" do início do ano.
    Na minha opinião nessas "escolhas erradas" que o nossso técnico tanto fala, ele está incluso nelas...
    Saudações azuis!!!

    ResponderExcluir
  5. Boa matéria!
    Muito bem colocado o Anísio Ciscotto, mas, acho que o cruzeiro poderia crescer muito no marketing. O Marketing para o torcedor é muito fraco e não tem um diferencial como outros grandes clubes tem.

    ResponderExcluir
  6. Muito boa a análise Anísio. Infelizmente, nós torcedores queremos sempre ver o nosso clube de coração no topo, e nem sempre percebemos que existe todo um trabalho em torno disso, principalmente no que se trata da saude financeira do clube.
    Infelizmente vejo nem sempre esses dados são passados ao torcedor e isso aliado ao momento vivido no futebol, tras desconfiança e acabamos por duvidar da capacidade de todos que trabalham seriamente nisso.
    Porém, como já disseram anteriormente, vejo o Marketing do Cruzeiro fraco em relação aos grandes clubes brasileiros. Vejo que falta ousadia, já que somos 8 milhões, numero que supera a população de diversos paises do planeta. Aliado a isso, a marca Cruzeiro possui grande visibilidade em nosso pais, possuindo espaço nas grandes emissoras e veiculos de circulação nacional. Se existe tudo isso a favor, porque não explorar de forma mais eficaz? Porque não trazer o torcedor pra mais perto do clube? São poucos os torcedores que sabem que existe uma revista própria do clube, que existe diversos materiais esportivos nas lojas Cruzeiro Mania... São alguns dos diversos exemplos em que poderia se explorar mais. E se falta opções, que perguntem ao torcedor o que eles querem, explorem as redes sociais e forúns de debates que sempre possuem excelentes idéias, como no Facebook, Twitter e até no falecido Orkut.
    No mais, saudações celestes!
    E mais uma vez parabéns pelo seu trabalho seja como historiador ou como profissional no nosso amado Cruzeiro Esporte Clube.

    ResponderExcluir
  7. Acredito muito que o Cruzeiro dará muitas alegrias a torcida nos próximos anos. Parabéns Anísio.

    ResponderExcluir