domingo, 29 de julho de 2012

I due fratelli!


Este texto foi publicado às vésperas de um confronto entre Cruzeiro e Palmeiras. Posteriormente, uma pequena parte foi acrescentada em uma das respostas.


Historiador relembra as origens dos dois 'Palestras', que se enfrentam hoje à noite

Pesquisador ítalo-brasileiro conta como surgiram os dois Palestras

    Thiéres Rabelo
Publicada em 29/07/2012 às 07:00
Belo Horizonte (MG)
Às vésperas do clássico entre Cruzeiro e Palmeiras, hoje, às 18h30, na Arena Independência, estarão frente a frente dois clubes de origens idênticas: Palestra Itália. O Palmeiras nasceu em 1914, como Palestra Itália-SP e serviu de exemplo à comunidade italiana mineira, para a criação do Palestra Itália-MG.
Em 1942, porém, ambos os clubes foram obrigados a abandonar as referências à Velha Bota em seus nomes, seus escudos, seus uniformes, etc. Isso se deveu à oposição do Brasil à Itália na Segunda Guerra Mundial e partiu das mãos do presidente Getúlio Vargas.
Hoje, quando os dois rivais farão o duelo de número 78 em sua história, a reportagem do LANCENET! entrevistou o historiador Anísio Ciscotto, vice-presidente da ACIBRA-MG (Associação de Cultura Ítalo Brasileira de Minas Gerais) e vice-presidente do Conselho Fiscal do Cruzeiro. O historiador contou à reportagem um pouco da origem dos dois Palestras e sobre o resgate que vem sendo feito das origens italianas dos dois clubes.
LANCENET! - Como se deu e qual foi a motivação da criação de agremiações totalmente italianas, como os dois Palestra Itália?
Ciscotto - No período entre 1880 e 1930 mais de três milhões de italianos vieram para o Brasil. Vinham atrás de oportunidades e porque os italianos, historicamente, tinham a tradição de emigrar em busca de trabalhos sazonais. Vários que vieram voltaram para a Itália e os que aqui ficaram fundaram várias instituições que tinham como fulcro a subsistência e ajuda mútua.
Entretanto, como a Itália, como nação, era muito nova, muitos dos que aqui chegaram não se sentiam italianos, mas sim “vênetos”, “toscanos”, “campânos”, entre outras regionalidades. Como o dinheiro enviado para a Itália pelos imigrantes constituía uma poderosa fonte de recursos, o Governo Italiano procurou criar nos italianos e seus dependentes o senso de “Pátria Itália”. Havia medo que, com o nascimento de novas gerações fora da península, as novas gerações perdessem os laços com a terra italiana.
L! - Como veio à existência o Palestra Itália Mineiro?
Ciscotto - Em 1914, dentro das indústrias Matarazzo, através de seus empregados mais graduados sob a cura do Consulado Italiano, nasceu o Palestra Itália paulista. Vendo o sucesso que o futebol propiciou à integração dos italianos e descendentes em São Paulo, o Cônsul italiano em Minas Gerais, o Cavaleiro de Sua Majestade Bellis di Sardis, procurou envolver a comunidade italiana de Belo Horizonte para que também fosse fundado um Clube que reunisse os italianos e descendentes em torno do sentido de Pátria Italiana.
O dia escolhido para a fundação e para a primeira reunião foi o dia 2 de janeiro de 1921, pois aquele ano era, para os italianos, um ano jubilar, pois a Itália completaria 60 anos de existência. Assim, os belo-horizontinos começaram o ano de muitas festas oferecendo à Pátria Itália a fundação de sua maior glória esportiva fora da Península, a Società Sportiva Palestra Italia. Aqui também os fundadores eram trabalhadores, operários mas haviam também expoentes da comunidade italiana, com sobrenomes tais como Noce, Lodi, Miraglia, Anastasia, Ranieri, Falci entre tantos outros.
L! - Quais eram as relações entre o Palestra Itália-MG e o Palestra Itália-SP?
Ciscotto - As relações sempre foram muito amistosas fora de campo e o estatuto do Palestra Itália de BH foi feito sob a inspiração de seu co-irmão de São Paulo. As partidas entre as duas esquadras sempre têm clima de confraternização. É comum termos a entrada da bandeira italiana, ouvirmos os hinos da Itália e do Brasil serem tocados e torcedores ítalo-descendentes usando a camisa da seleção italiana. Dentro de campo, desde maio de 1930 a rivalidade é acirrada. É bom lembrar que, os primeiros jogadores comprados pelo Palestra de Minas, fora do estado, foram adquiridos do co-irmão paulista.
L! - Conte um pouco do que foi o período palestrino do Cruzeiro, de 1921 a 1942?
Ciscotto - A época de Palestra no período ensejado é sobremaneira bem estudada na obra de Plínio Barreto, De Palestra a Cruzeiro - Uma trajetória de Glórias. Dos anos iniciais, datam os primeiros ídolos e conquistas do Palestra, como o tricampeonato estadual de 1928, 1929 e 1930, com uma equipe que contava com os lendários Ninão, Nininho, Bengala e Piorra. Aliás, os primeiros jogadores que saíram do Brasil para jogarem na Italia, saíram do Barro Preto e foram para Roma jogar na Lazio. Eram os irmãos Niginho, Ninão e Nininho Fantoni. Foi a época da construção do estádio e dos primeiros títulos.
L! - O que o Cruzeiro faz no sentido de resgatar as origens italianas, coisa que o Palmeiras também faz?
Ciscotto - O próprio uniforme do Cruzeiro é a maior demonstração de italianidade que podemos nos referir. As cores da camisa são as mesmas da Nazionale italiana. Hoje, dentro do Cruzeiro há uma forte participação de italianos natos e ítalo-descendentes, que cobram à diretoria ações no sentido de que não se perca os laços com a Itália. A nova administração possui um vice-presidente que foi indicado pela bancada italiana, que trata-se de Márcio Ribeiro, que possui fortes laços com a Itália. Contatos e parcerias com equipes italianas têm sido formados e há um forte trabalho para que a Itália se hospede na Toca da Raposa 2, durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, o que está muito bem encaminhado. Em setembro, sempre ocorre, na sede Campestre, a Festa Una notte in Italia que revive as músicas, a gastronomia e outras tradições italianas.
PALESTRA X PALESTRA
Antes de 1942 e da imposição de novas nomeclaturas, os dois clubes se enfrentaram três vezes, todas elas na década de 1930 e todas elas com vitórias do Palestra paulista.
Em 18 de maio de 1930, se enfrentaram no Estádio do Barro Preto, região centro-sul de Belo Horizonte, pelo Troféu Lineu Prestes. A vitória foi do time de São Paulo, por 4 a 2. Os mineiros, do técnico Matturi Fabbi foram a campo com Catalano, Rizzo, Nereu, Bento, Pires, Nininho, Piorra, Ninão, Carazo, Bengala e Armandinho. Os paulistas foram a campo com Russo, Loschiavo, Nigro, Giglio, Goliardo, Serafini, Ministrinho, Carrone, Heitor, Lara e Osses, sob o comando técnico de Humberto Cabelli.
O segundo foi em 23 de maio de 1937, desta vez em São Paulo, em um amistoso. Os paulistas não tomaram conhecimento do co-irmão e venceram por 5 a 1. Os donos da casa foram a campo com Jurandyr, Carnera, Begliomini, Tunga, Dudu, Del Nero, Novamanoel, Luizinho, Moacyr, Rolando e Imparato, com comando técnico de Matturio Fabbi. Os visitantes, do técnico Ninão, tiveram Geraldo II, Tião, Tueu, Carazo, Chiquito, Zama, Orlando, Niginho, Perácio e Calixto (que abriu o placar).
Por fim, menos de um mês depois, os dois times voltaram a se enfrentar, no dia 13 de junho, mas em Belo Horizonte. Desta vez, o duelo mais equilibrado, com os mineiros novamente saindo à frente no marcador, mas levando a virada. Ninão mandou o time da casa a campo com Geraldo, Tião, Tueu, Souza, Carazo, Caieira, Zama, Orlando, Niginho, Bengala e Calixto. Fabbi mandou os paulistas a campo com Jurandyr, Carnera, Begliomini, Ruiz, David, Del Nero, Frederico, Novamanoel, Moacyr, Rolando e Mathias III. O placar final foi de 3 a 2 para os visitantes.


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