quinta-feira, 22 de março de 2012

Ganhamos no campo e no discurso!

Em 06 de maio de 2007 aconteceu o jogo final do campeonato mineiro daquele ano.
Na primeira partida, jogada uma semana antes, o nosso rival nos derrotara pelo elástico placar de 4 x 0, tendo acontecido naquela partida o folclórico “gol do retrovisor”. Nosso goleiro Fabio, após tomar o terceiro gol, foi buscar a bola dentro da meta para recolocá-la em jogo, porém, antes que o fizesse, o juiz recomeçou a partida com outra bola. Espertamente o atacante alvinegro roubou a pelota de nossos meio-campistas e correu em direção ao gol de Fabio, que de costas para o adversário, se encaminhava para buscar a outra bola. Resultado: o atacante chutou em direção ao nosso gol e consignou o quarto tento. Muitos protestos por parte da direção cruzeirense, mas que de nada adiantaram junto à Federação Mineira de Futebol.
        Pois bem. No dia 06, como de costume, me dirigi ao Mineirão para assistir a partida derradeira, com a certeza que devolveríamos a goleada e seríamos campeões escrevendo mais uma página heróica e imortal na História de nosso time, e que, mais uma vez, eu seria testemunha ocular de tal momento, assim como acontecera quando Revétria destruiu as hostes inimigas anos antes. É bom lembrar, que, dessa vez, o time do Cruzeiro era infinitamente melhor qualificado que nosso rival, e que a presença de vários jogadores nascidos na base cruzeirense nos dariam um apetite maior para devorar o galo. Tal escolha por muitos garotos da base deu-se pelo fato de nosso treinador durante o campeonato ter abandonado o barco após a goleada, sendo substituído por Emerson Ávila, treinador da base. Vários medalhões foram afastados e a chance aos juniores fora dada.
        O fato do abandono do posto pelo treinador e o gol inusitado foram explorados à exaustão pela mídia nacional, que praticamente entregara o troféu antecipadamente ao rival. Somente os apaixonados cruzeirenses acreditavam em uma vitória por quatro gols, e eu e alguns conselheiros estávamos entre esses abnegados.
        Antes do jogo começar, me reuni com Benecy Queiroz e sugeri que nosso goleiro Lauro (Fabio se contundira na partida anterior) jogasse uma bola no fundo de seu gol e esperasse o juiz iniciar a partida. A intenção era verificar o que diria o juiz daquela partida sobre o jogo com uma bola no fundo do barbante. Assim foi feito e, antes da partida começar, o assistente foi até o juiz e comunicou que havia uma bola dentro do gol cruzeirense. O juiz, Álvaro Quelhas, se dirigiu a Lauro e mandou que tirasse a bola de lá, pois não poderia começar o jogo com tal bola dentro do gol. Protestamos muito, pois o quarto gol da partida anterior foi consignado com uma bola dentro de nossa meta. Aliás, Fabio se dirigia para retirar a bola quando o juiz determinou o reinício da partida. Como sempre, dois pesos e duas medidas, sempre a favor de nosso adversário... A bola foi retirada.
        Lembro-me que foi uma semana muito alegre para a torcida atleticana, afinal, desde 2000 não ganhavam o campeonato mineiro. Muitas crianças que foram ao estádio naquela tarde, jamais haviam gritado que seu time era campeão, e aquela era a oportunidade há tantos anos esperada.
As filas na porta da sede de Lourdes viravam as esquinas e a animação era enorme. Os ingressos referentes à torcida deles se esgotaram em frações de horas, enquanto os ingressos disponibilizados para a torcida cruzeirense sobravam e as bilheterias no Barro Preto estavam às moscas. A diretoria atleticana se dirigiu ao nosso Presidente Alvimar Perrella e solicitou que parte dos ingressos colocados à disposição do Cruzeiro fosse repassada aos adversários, no que foram atendidos pelo nosso galante mandatário. Muitos amigos fregueses pediram que eu comprasse ingressos nas bilheterias do Barro Preto, principalmente das cadeiras especiais que foram as primeiras a se esgotar na sede de Lourdes.
Enfim, no domingo, dia do jogo, o Mineirão se revestia com as cores alvinegras. Ao chegar ao estádio fiquei surpreso com a multidão que se acotovelava nas entradas, ávida por dar um grito de campeão. Fiquei pensando como a Torcida Cruzeirense é afortunada, ao poder sempre estar comemorando.
Logo na entrada encontrei com o Presidente Alvimar e notei que o seu séquito não havia vindo. Isso me impressionou, pois Alvimar sempre foi, e é, uma pessoa muito querida no Clube. Realmente a confiança não estava figurando como palavra de ordem nas hostes cruzeirenses. Procurei encontrar amigos do Conselho e esses raleavam em presença. Encontrei dois amigos, um que é desembargador e outro que é comerciante e me juntei a eles.
Ao subirmos para as cadeiras, sentamo-nos em frente ao meio de campo e aos poucos fomos, prudentemente, nos aproximando das grades que dividiam as cadeiras especiais das arquibancadas onde fica nossa torcida. Antes do início da partida, já estávamos assentados na última fileira, bem perto da grade. Cabe aqui ressaltar que estava uma torcida atleticana bem diferente daquela que usualmente freqüentava o Mineirão. Foi um dia em que muitas famílias se dirigiram ao estádio, uma vez que parecia ser um jogo de uma torcida só, com a presença de muitas mulheres, crianças e principalmente idosos ávidos em dar o grito de campeão, tão usual nas décadas anteriores a 1960, mas tão difícil de acontecer após aqueles anos. Encontrei muitos amigos e confraternizamos alegremente, apesar de estar envergando uma camisa de meu time. Muitos riam de mim e perguntavam o que eu fazia por lá, já que o título daquele ano seria deles com uma nova goleada a ser aplicada. Expliquei que ser Cruzeirense de verdade é igual o casamento: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na vitória ou no empate (não admitimos derrotas). Realmente se prenunciava uma festa!
Como disse, a festa estava pronta e eu tinha certeza que colocaríamos muita água naquele chopp envelhecido há sete anos. No dia anterior entreguei ao nosso técnico um DVD com uma montagem feita por alguns torcedores que me enviaram, após contato no orkut, com o filme “300”. É a história de trezentos guerreiros espartanos que enfrentaram milhares de persas, defendendo a Grécia de uma invasão e conseguiram evitar a entrada dos inimigos. A montagem ficou muito legal, com cânticos de torcida, recados apaixonados  e foi mostrada aos jogadores após a exibição do filme. Foi uma motivação e tanto! Eu sabia que nossos juniores venceriam o pobre galinho, só não sabia de quanto seria. Eu acreditava que poderíamos devolver a goleada da semana anterior e aí sim, gritarmos: “Um dois, três, campeões mais uma vez”!
O jogo começou e logo aos oito minutos Guilherme acertou um “pombo sem asa” e inaugurou o placar para o delírio da pequena torcida Cruzeirense. Algo bom se prenunciava... Aos quarenta e três minutos Wellington ampliou o placar e calou de vez o Mineirão. Ouvi um rapaz dizer que não deveria ter trazido seu avô ao estádio, pois achava que ele não resistiria a mais uma decepção.
Entretanto, como nem tudo acontece como planejamos, nosso zagueiro Luisão caiu na provocação dos atleticanos e foi expulso. Se com onze já era difícil, com dez ficou mais ainda. Mas que o Mineirão calou isso calou.
 Chegou o intervalo e ficamos os três Conselheiros conversando alegremente e brincando com nossos amigos atleticanos de que no segundo tempo faríamos mais dois gols. Nesse momento chegou, bem perto de nós, um grupo de rapazes bem fortes, com a camisa preto e branca, e começaram a fazer discurso a nosso respeito. Nos chamavam de marias e perguntavam o que estávamos fazendo ali, que naquele dia o Mineirão era deles. Procuravam uma maneira de nos agredir e estavam propensos a isso. Muitos atleticanos vieram em nosso favor, pedindo aos rapazes que saíssem dali, pois havia muitas crianças e idosos por perto e não seria bom haver confusão. Nada disso adiantou. Um, inclusive, assentou-se ao meu lado e começou a cantar músicas de torcida, sempre cuidando de me esbarrar ou empurrar. Em dado momento, ao se levantar, me deu uma cotovelada na orelha que doeu muito. Instintivamente me levantei e protestei. Era tudo o que o grandalhão esperava! Agora o combate havia começado. Ele fechou a mão e veio me dar um soco, porém, meu amigo desembargador, que estava assentado na fileira de cima, para me defender empurrou o grandalhão que se desequilibrou e quase caiu. A confusão imperou!
De repente, o grandalhão voltou para nos agredir e eu gritei com ele que aquilo não era justo. Ele e seus amigos saídos das academias contra três senhores na casa dos cinquenta anos! Era uma covardia! Ele replicou dizendo que bater em maria nunca era covardia... Eu disse que ele era muito macho brigando comigo, que queria ver ele brigando com um amigo meu, muito mais forte do que ele. Ele disse para eu chamar meu amigo. Foi aí que ele errou...
Desci as escadas e chamei um policial que por ali estava. Expliquei para ele o que acontecera e pedi a sua ajuda, dizendo que se tratava de um desembargador que estava sendo agredido. Ele prontamente seguiu para o local da confusão e se dirigiu ao meu amigo perguntando se ele era juiz de direito. Meu amigo conselheiro se identificou, disse uns artigos e parágrafos de um certo código e deu voz de prisão ao inconveniente grandalhão atleticano, que atônito reclamou comigo que aquilo era uma “sacanagem”! Eu lhe sorri e respondi com uma pergunta: Eu não te falei que meu amigo era mais forte que você?
É bom ressaltar que o grandalhão foi recolhido sob o aplaudo da maioria dos atleticanos que estavam ali presentes e foi sozinho, pois os amigos debandaram.
Bem, veio o segundo tempo e o Atlético segurou o resultado e se sagrou campeão. Os atleticanos foram embora alegres com o título e nós, Cruzeirenses fomos com a satisfação de termos colocado água no chopp deles.
Enfim, todos felizes! Bem, nem todos, pois o grandalhão foi recolhido à carceragem do estádio e não sei quanto tempo ficou por lá. Acho que nas obras de reforma do estádio para a copa do mundo, algum operário deve ter encontrado o afoito campeão de lutas e deve tê-lo libertado.

4 comentários:

  1. Anísio, excelente post, assim como todos os outros.

    Também fui à esse jogo e me senti orgulhoso pela hombridade do time e da torcida em uma situação tão desfavorável.

    Vale lembrar que depois desses 4x0 passamos vááááários ex-clássicos sem perder. E esses 4x0 foram muitos bem descontados nas finais dos mineiros de 2008 e 2009 (duplo 5x0).

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  2. Sensacional. Dizem que esse dia o orifício anal dos jogadores e torcedores do Atlético não passava nem um grão de arroz. Se não fosse a expulsão do Luisão, seria uma das histórias mais espetaculares do mundo. Mesmo com um a menos, lembro-me do chute do Gabriel na trave no segundo tempo. Aquele dia quase foi épico, mas foi muito bom. Perdemos de cabeça erguida.

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  3. kkkkkkkk...muito boa a história,principalmente o desfecho!!Realmente o grandalhão deve estar lá perdido até hj!!!!!!!

    Me lembro muito bem deste jogo...foi o ruralzito mais sem graça que as frangas já levaram...ainda mais com a sensação de vergonha por terem perdido mais uma pra gente...sem contar que depois deste jogo,veio a era Adílson Batista da qual nos tornamos imbatíveis em clássicos!!!!

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  4. Sensacional! Imagino a cena. Fora a euforia após a detenção do sujeito que deve sim, se lembrar de você sempre que o time dele toma uma chapuletada de 5 ou de 6 do nosso Cruzeiro.

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