sábado, 18 de agosto de 2012

Encontrando Osvaldo Faria


                Há certos dias que são memoráveis e nunca saem de nossa memória. São momentos mágicos e que acontecem sem o planejamento e sem serem esperados. Simplesmente acontecem.
                Sempre fui um apaixonado por futebol e desde pequenino frequento o Mineirão. Primeiramente por influência de meu pai e depois de adolescente por conta própria. Acho que podem ser contadas nos dedos de uma mão as vezes que perdi um jogo do Cruzeiro contra o Atlético Mineiro. O clássico tem uma magia própria e, particularmente é o meu jogo favorito. Gosto muito de assisti-lo.
               Sempre tive um ritual próprio na ida ao Mineirão. Quando era garoto, antes de sair com meu pai para o estádio, deveria ir ao banheiro e tomar um copo d’água. Era sagrado: se não fizesse isso o Cruzeiro teria um jogo duro pela frente. Mais recentemente o ritual se tornou mais social mesmo, fazendo parte dele o tradicional tropeirão, a cerveja e a resenha com os colegas de Conselho Deliberativo. Um detalhe que não muda desde pequenino é a presença do radinho de pilha devidamente sintonizado na Rádio Itatiaia. Ainda hoje, quando escuto a abertura da jornada esportiva, com o som da música que fez parte da trilha sonora do filme “A volta ao mundo em 80 dias” (aquela que tocou na cena quando Cantinflas se apresentou como toureiro), de 1956 com o inesquecível David Niven, me emociono. A voz de Osvaldo Faria dizendo “Nós abrimos para o rádio de Minas os caminhos de todos os continentes”, ainda ecoa em minha memória e no meu coração!
                Nos idos do início da década de 1990, os locutores e repórteres da Itatiaia não eram tão assíduos em programas de televisão. Não apareciam e faziam questão de manterem a mística sobre suas figuras em relação às suas vozes. Eu os ouvia e nem imaginava como seriam pessoalmente. A única exceção era Carlos César Franco Gomes, o “Pinguim”, o “Garotinho de Aimorés”, que pelo motivo da família de minha mãe ser daquela progressista cidade, havia laços mais que suficientes para que nos conhecêssemos. As vozes de Osvaldo Faria, Alberto Rodrigues, Willie Gonzer, Roberto Abras, Mauro Neto e Milton Naves, entre outros, eram muito conhecidas em minha cabeça. Como seriam ao vivo, eu nem imaginava e tinha muita curiosidade em conhecê-los.
                No início de 1993 eu trabalhava como Gerente Adjunto na agência Padre Eustáquio e tinha um cliente que trabalhava na Rádio Itatiaia. Ele era um operador da rádio e tinha muito orgulho de dizer que sua função era a de “apertar as carrapetas” para as transmissões do Primeiro Time do Rádio. Não me recordo seu nome, mas era uma pessoa muito simpática e gostava de contar casos da rádio. Lembro-me que um dia me contou que Osvaldo Faria e sua equipe transmitiram um jogo falando de cima do muro de um estádio no interior de Minas. Tão entusiasmado fiquei em conhecer um componente do time da “Maior de Minas” que, certa vez, montei alguns kits com brindes da Caixa e mandei-os aos meus ídolos através de meu importante cliente. Para minha surpresa, no dia seguinte, ao ouvir a Turma do Bate Bola, no noticiário do Atlético Mineiro, Osvaldo Faria disse a Roberto Abras: Roberto... estive hoje na Caixa Econômica Federal do Padre Eustáquio, e o gerente de lá, o meu amigo Anísio Ciscotto, atleticano fanático, me perguntou sobre esse garoto Reinaldo que subiu dos juniores...  Era a maneira como Osvaldo Faria agradecia as deferências que recebia: citava o nome de quem o homenageava. Com certeza era uma belíssima retribuição, pois todos seus amigos comentavam que tinham ouvido seu nome e ficavam impressionados de você ser amigo do Osvaldo Faria. Só que no meu caso virou gozação, pois ele disse que eu era atleticano.
                No dia seguinte meu cliente apareceu na Caixa e perguntou se tinha ouvido a saudação do então "Chefe" e se tinha gostado. Agradeci, mas lembrei a ele que era Cruzeirense e candidato na chapa de César Masci a Conselheiro do Cruzeiro. Tinha pegado muito mal nas hostes barropretanas ter sido chamado de sofredor. Meu cliente prometeu remediar e, para minha alegria, retornou com um convite especial e fantástico para mim: Osvaldo Faria me convidou para assistir o próximo jogo do Cruzeiro ao lado dele na cabine da Itatiaia no Mineirão! Aquilo era um verdadeiro sonho que se realizava! Eu iria assistir uma partida do Cruzeiro ao lado dos meus ídolos do rádio e conhecê-los ao vivo! Aquela cabine que era frequentada por políticos, governadores, prefeitos e tantas pessoas ilustres receberia a minha visita! Quase tive um troço!
                Para minha felicidade, o jogo escolhido, foi justamente um Cruzeiro x Atlético Mineiro, que decidia, pasmem: quem seria o vice-campeão mineiro! O América havia se sagrado campeão e os dois rivais decidiriam quem seria o vice campeão. Seria uma bela oportunidade de tirar minhas dúvidas sobre quem era Cruzeirense ou sofredor, pois veria a reação de cada um, ao vivo.
                Na noite do dia 28 de julho, uma quarta-feira, compareci no Hall Principal do Mineirão e um funcionário da rádio me aguardava. Muito solícito, me conduziu à cabine da rádio, onde meu cliente me aguardava, assentado ao lado direito do recinto operando alguns aparelhos. Logo após me receber, me apresentou aos que estavam presentes, que eram: Osvaldo Faria, Willie Gonzer, Alberto Rodrigues e a ilustre pessoa do ex-prefeito Sérgio Ferrara, que há algum tempo, havia sido da equipe da rádio. Aliás, naquele dia, ele deu uma bela notícia para a população de Belo Horizonte. Disse que o governo federal havia aprovado uma verba para a ligação da Avenida Pedro II com o bairro Alípio de Melo, passando pela Vila São José...
                Naquela noite tive a oportunidade de ouvir, em viva voz, o célebre “gol, gol, gol” de Alberto Rodrigues pois o Cruzeiro venceu a partida pelo placar de 2 x 1. Fiquei sabendo que Willie Gonzer era gremista e que Osvaldo Faria não se alterava quando Cruzeiro ou Atlético faziam seus gols. O mais interessante foi comparar a minha imaginação com a realidade da fisionomia das pessoas. Como eram diferentes do que imaginava! Realmente é uma mágica que só o rádio proporciona, essa coisa de imaginarmos a pessoa através de suas vozes. Quando vi Roberto Abras, magrinho, pensei que cada setorista correspondia ao seu time: Pinguim gordinho, como as glórias do Cruzeiro e Roberto magrinho, magrinho, como os títulos de seu time. Naquela noite tive o prazer de ver o menino Ronaldo em campo. Jogou muito. Foi uma noite fria no campo, nas arquibancadas (somente onze mil pessoas assistiram) e também na temperatura ambiente. Só foi muito quente na minha emoção.

                Até hoje não sei se Osvaldo Faria torcia para Cruzeiro ou Atlético. Como Cruzeirense, acho que ele torcia pelo Atlético Mineiro, pois seu filho Bob sempre foi, e é, atleticano fanático.  Mas era uma pessoa admirável e foi um dos esteios da Rádio de Minas. Realmente ele abriu os caminhos de todos os continentes para o rádio de Minas. Que Deus o tenha em excelente lugar!

5 comentários:

  1. final da década de 70 , pricipio dos anos 80 eu era um garoto trabalhava a noite em uma padaria o apito final era um programa obrigatorio das noites de trabalho .gostava das chamadas. Osvaldo farías coragem para dizer a verdade . máis esse porra louca decia a lenha no cruzeiro e enchia a bola do galo . eu ficava louco de raiva , máis na quela época o galo de joão leite a Éder era uma grande força do futebol mineiro e brasileiro , já o meu cruzeiro tinha nelinho , joãozinho mauro e Roberto cesar . boas lembranças ,

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  2. Somente hoje conheço teu blog. Parabéns, pena que talvez o comentário seja fora de tempo. Ao menos a mim não resta dúvida de que o O.Faria era atleticano. Meu pai foi contemporâneo dele antes do mesmo ser profissional de rádio e tentou qualquer coisa como jogador. Meu pai afirmava claramente que o tal era cocota. Em certa vez, o atendi no B.Real, acompanhado de um colega atleticano que lhe perguntou se ele era cruzeirense, ele, comigo à frente, titubeou ficou sem graça. Percebi que vacilou. Claro, só vendo vc. poderia concordar comigo. O argumento é fraco, bem sei. No entanto, olha o filhão dele. Imita até na profissão, não é mesmo? Tem dúvida de que o Bob seja atleticano?? Acho que filho de peixe...

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  3. Muito bacana Anísio! quanto ao Bob, só assisto jogo com ele comentando se não houver outra opção!

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  4. Muito legal a história Anisio. Apesar de ser mais novo, também cresci escutando Itatiaia e imaginando como eles seriam na "vida real". Escutava os jogos depois ficava até de madrugada com meu falecido pai escutando as notícias até cair no sono junto com ele.
    Fico triste que hoje essa rádio está se tornando cada vez mais política e defendendo os interesses de quem lhes interessa. Fico triste porque faz parte da minha história e hoje não tenho nem o prazer de escutar pra relembrar um pouco sem passar raiva com os comentários.

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  5. Escutei a Itatiaia por uns 20 anos. O engajamento esporte é impressionante. Abdiquei da escuta há 2 anos. Já estava incomodado con o excesso de propagandas, mas a gota d'água foi um locutor chamar a ditadura de "revolução restauradora". A partir daí, só Band e CBN.

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