sábado, 14 de abril de 2012

Duas torcedoras que são símbolos do SADA Cruzeiro

         A equipe de volei do SADA Cruzeiro possui uma enorme torcida. Torcedores de todos matizes, ânimos e perfis. Uma prova do que digo, é a torcedora Salomé tão bem descrita pela colunista do jornal O Tempo na coluna que copio logo após essa minha introdução.
         Salomé é uma antiga conhecida. Não sei como ela apareceu no Cruzeiro. Reza a tradição que, quando a sede administrativa ainda funcionava no Parque Esportivo Barro Preto, havia uma galeria com todos os troféus que o Cruzeiro havia ganhado até então. Um dia apareceu uma jovem pedindo emprego no Cruzeiro como auxiliar de serviços gerais. Quando lhe mostraram as dependências da sede administrativa e ela viu a sala de troféus, ficou extasiada e, de tão Cruzeirense que era, disse que trabalharia de graça se a deixassem polir e limpar os troféus daquela sala. Eram troféus levantados por capitães Cruzeirenses e representavam tantas glórias e esforços, que então seria uma honra para ela cuidar daquelas preciosidades. Desde então, o troféus Cruzeirenses são os mais brilhantes de Minas Gerais, não só pelo valor das conquistas, muitas inéditas em nosso estado, como também pelo carinho que a eles Salomé dispensa. Feliz ela, que ganha seu salário fazendo aquilo que gosta!
         Outra prova da diversidade e qualidade de nossa torcida é, exatamente, a autora da crônica sobre Salomé: a Colunista Laura Medioli.
         Sempre fui leitor assíduo das colunas de Laura e gosto muito de ler os livros por ela escritos. Acho que temos estilos parecidos, pois gostamos de retratar as preciosidades do dia a dia de maneira bem acessível a quem nos lê. Entretanto, em suas colunas Laura sempre mostra e conta a sua preferência clubística tão oposta à minha. Suas colunas nos levam a um tempo, não muito distante, onde havia mais romantismo no simples fato de ir ao Mineirão assistir a um jogo do time do coração. Ela nos conta casos de vitórias atleticanas, como também de frustrações, como no dia em que Roberto César, artilheiro do Cruzeiro, marcou vários gols e ela enfurecida, atirou longe o radinho no qual ouvia o jogo e disse que aquele rádio nunca mais transmitiria gols de Roberto César! Para mim, Laura Medioli, sempre foi um "Kalil de saias" tão grande é, ou era, a sua paixão pelo time do outro lado da lagoa.
         Com o advento do SADA Cruzeiro Laura sempre está presente nos jogos do time de volei, afinal, seu marido, Vitorio, e seu cunhado, Alberto, são os dirigentes do grupo empresarial que gere caminhões transportando veículos, edita jornais, tem fundições, produz autopeças e até patrocina uma equipe de voleibol. E Laura torce com muita alegria e entusiasmo, como se, ao invés de camisas azuis, lá estivessem as alvi-negras, que um dia foram vestidas por Badalhoca, Fernandão ou Pelé. Tal comportamento tão sincero, vindo de uma xiita atleticana, nos remete a pensar o quão fútil é a violência que impera entre torcidas. A convivência com os jogadores e a amizade com torcedores de outros times nos fazem ver que, embaixo das camisetas estão amigos, parentes e principalmente, gente como a gente mesmo.
         Bem, o discurso é um e a realidade é outra. Devo me penitenciar porque, quando estou assistindo o jogo ao lado dela, sempre a provoco dizendo que ela fica muito bem cantando: "Vamos, vamos, Cruzeiro"! E ela canta mesmo, com muito orgulho e muito amor, pela equipe de volei que tem muito do seu trabalho e dedicação.




Laura Medioli
No dia em que se atrasa, fico preocupada: cadê a mulher da raposa? Basta dizer isso que todos sabem a quem me refiro
Publicado no Jornal OTEMPO em 10/04/2012
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FOTO: ACIR GALVÃO
Ânimos esquentados
Da cadeira do ginásio do Riacho, em Contagem, de onde assisto aos jogos do Sada Cruzeiro, procuro, na arquibancada, aquela figura extravagante, com seus longos cabelos mesclados de branco e louro e sua raposa de pelúcia. Costuma sentar-se sempre no mesmo lugar - empolgada e empolgante -, já conhecida pelos torcedores celestes.

No dia em que se atrasa, fico preocupada: cadê a mulher da raposa? Basta dizer isso que todos sabem a quem me refiro. E ela sempre aparece com sua camisa azul, seus cabelos compridos, a face marcada pelo tempo e pela vida. De onde vem? Não fazia ideia. Mas gostava da presença constante daquela senhora diferente, divertida e apaixonada.

Até que, nesta semana, indo ver os treinos do meu time de vôlei, na sede do clube, no Barro Preto, vejo ao longe os mesmos cabelos tingidos, as unhas pintadas de azul... Será???
Pergunto-me, curiosa, até perdê-la de vista. Subo ao centro de treinamento e a primeira pergunta que faço é:

- A mulher da raposa trabalha aqui? Descubro que sim e também que seu nome é Salomé, antiga faxineira do clube.

Adoro figuras assim. Torcedores folclóricos que fazem a diferença. Virei fã da Salomé, senhora humilde que, após um dia exaustivo de trabalho, costuma ir a Contagem, a um ginásio, provavelmente distante de onde mora. Ela e sua raposa, somente para ver o Sada Cruzeiro jogar.

Nesse dia em que a descobri, discutíamos a questão dos ingressos. Nosso adversário dificultara a disponibilidade dos mesmos. Isso porque nosso time também não ofereceu a eles os 20% devidos, pois o prazo de requisição havia vencido. Em clima de decisão, os ânimos se alteram e, por mais que queiramos que tudo dê certo, não tem como. Procuro não me meter na confusão. Diferente do que era antes, hoje sou da turma do "paz e amor".

- Por que não demos os 20%? Pergunto.

- Porque, quando pediram, já era fora do prazo e não tínhamos mais ingressos. Desisto de discutir o que não tem mais retorno. Os ingressos são poucos para a enorme demanda, mas peço, de antemão, para reservarem o da Salomé.

Daqui para frente, sei que será assim: ânimos acirrados, discussões movidas não somente pela razão, mas, também, pela emoção. Faz parte do jogo, principalmente nas decisões ganhas nos detalhes.

No domingo, dia 8, assisti, na TV, ao jogo de outra semifinal, entre RJX e Vôlei Futuro. Venceu quem teve mais raça. Numa melhor de três, será decidido o nosso adversário para a final da Superliga, no próximo dia 21.

Existem times que, com dinheiro, contratam os melhores e mais caros jogadores do país e ainda compram 12 mil camisas para uniformizar uma torcida inteira. Entretanto, a "alma" de um time não se compra.

Seja como for, é gratificante ver os ginásios lotados, popularizando cada vez mais o que já é considerado o segundo esporte do Brasil, até há pouco tido como um esporte das "elites".

Que venham os torcedores uniformizados, assim como as torcidas organizadas, trazendo paixão e alegria aos ginásios. Somente assim darão a esse belíssimo e empolgante esporte o verdadeiro valor que merece.

Emoção. Nesta semana, outra grande emoção: o primeiro transplante multivisceral (estômago, duodeno, intestino, pâncreas e fígado) realizado na América do Sul, pela equipe comandada pelo doutor Ben-Hur. A ele, ao doutor Sérgio e a toda a equipe, o meu mais profundo respeito e admiração.
LAURA MEDIOLI escreve no Magazine às terças-feiras. laura@otempo.com.br

sábado, 7 de abril de 2012

Tentam diminuir o que há de novo e belo no Voleibol.


                Mudei-me para Belo Horizonte em 1967 e meu pai escolheu o bairro Santo Antônio para morarmos. Nosso apartamento, comprado com financiamento da Caixa Econômica Federal, fica a três quarteirões do Minas Tênis Clube.  A primeira providência de meu pai em Belo Horizonte foi comprar uma cota do Minas Tênis, o que muito nos agradou. À época, não havia muros em boa parte da lateral do clube que ficava na Rua Espírito Santo. Havia uma pequena cerca de madeira e o fechamento era feito com plantas altas. Logo em frente à portaria da mesma rua, havia um conjunto de escorregadores de madeira que ficavam sobre a piscina infantil e era um sucesso.
                Com o tempo cresci, sempre frequentando o Minas Tênis, e levando em conta o lema do clube que é “Cultura, Esporte e Educação”. Passei no concurso para estudar no Colégio Estadual Central. Assim, ia para as aulas todos os dias e após o horário escolar, me dirigia para o clube onde frequentei diversas escolinhas, e inclusive fazia ginástica no gramado com o Professor Macedo, que distribuía balas de mel após as lições. Joguei vôlei ao lado de Rogério Costa de Faria, Helberto, Antônio Pinico, o falecido Pirão, Henrique Bassi e tantos outros que brilharam no esporte. Frequentei o judô do Professor Albano e de seus filhos Francisco e Banoca, como também frequentei o basquete com amigos como Sylo Costa e outros craques. Nadei ao lado dos irmãos Medioli e tentava acompanhar o que tinha a minha idade, o Alexandre, coisa que nunca consegui. Nunca fui titular de nenhuma das equipes, mas ia aos jogos, torcia muito e participava bastante. Comigo valia o lema de “o importante é competir”. Em 1978 o Brasil possuía um técnico de futebol, Cláudio Coutinho, que gostava muito de jogadores multidisciplinares, a quem ele chamava de “polivalentes”. Eu, dentro do Minas Tênis Clube, era o próprio polivalente: jogava tudo mas não era bom em nada. Apesar de minha pouca capacidade esportiva, tinha uma grande capacidade aglutinadora, o que fazia com que conseguisse muitos amigos e me divertisse bastante, principalmente nas domingueiras no salão de festas, as famosas Missas Dançantes. Eu era muito popular, como dizem hoje.
                Lembro-me sempre com muito carinho da torcida Minastenista no antigo ginásio da Rua da Bahia, onde o clube escreveu também páginas heroicas e imortais. Porém, faltava à torcida de meu clube a empolgação que eu via nas arquibancadas do Mineirão quando ia ver meu Cruzeiro jogar. Após os jogos de vôlei, sempre pintava um sanduíche americano no restaurante do Clube para os atletas, e eu era sempre convidado como representante da torcida.
                Em 1991 sofri um grande baque financeiro, que me obrigou a vender minha cota do Minas Tênis Clube. Após assinar a transferência da cota, fui trabalhar e ao chegar lá, na agência Barro Preto da Caixa Econômica, encontrei o Presidente César Masci que precisava conversar comigo sobre a cobrança dos boletos do condomínio do Cruzeiro que seria feita pela Caixa. Contei a ele que tinha vindo da sede do Minas Tênis, que tinha vendido minha cota e me emocionei. Disse a ele que um pedaço de minha vida tinha ido embora naquela manhã. Ele se emocionou comigo e disse que morreria se vendesse sua cota do Cruzeiro. Disse que, com o tempo eu compraria outra cota e que era para ter paciência, pois tal dia chegaria logo. Para remediar a situação, me ofereceu uma cota do Cruzeiro a preços bem módicos. Aceitei e comprei a cota.
Estranhava muito que o Cruzeiro era um Clube muito completo, porém dava muito valor ao futebol e pouco valor a outros esportes olímpicos. O Cruzeiro sempre teve equipes e escolinhas de natação, vôlei, basquete, bocha e outros esportes, porém, faltava a força que davam ao futebol.  Minha escola clubística, forjada no Minas Tênis Clube, sempre me impeliu a trabalhar com o escopo de transformar a estrutura do Cruzeiro em uma grande potência olímpica. Há que se ressaltar que o Cruzeiro possui diversas medalhas olímpicas oriundas dos jogadores de futebol que cedemos para as equipes olímpicas. No final de 2008 tal oportunidade começou e se realizar com a parceria entre o SADA Vôlei e o Cruzeiro Esporte Clube. O primeiro passo do meu projeto pessoal olímpico fora dado.
Fiz esse preâmbulo todo, contando um pouco mais de minha história, para chegar ao assunto que titula este texto. A popularização do vôlei e a presença da torcida do Cruzeiro nos ginásios. A partir do início das atividades do SADA Cruzeiro, nada mais esperado que a torcida celeste aproveitasse a oportunidade e passasse a frequentar os ginásios onde nossos Guerreiros das Quadras se apresentassem. Foi o que ocorreu. Nos últimos anos, o Cruzeiro tem sido o Clube que mais tem levado gente aos ginásios em todo o Brasil. Não só por sua fanática torcida, como também por torcidas adversárias que correm para ver seus times enfrentar uma equipe da mais alta qualidade. A torcida do Cruzeiro nos ginásios, assim como nos estádios, tem feito uma enorme diferença. Cantam e apoiam durante todo o jogo. As canções que são entoadas nos estádios são levadas para as arquibancadas dos ginásios, e empurram nosso time e intimidam os adversários acostumados a jogar contra torcidas que usam “bate-bates” como maneira de fazer barulho.
Nossa torcida intimida sim, mas também encanta. Recentemente um jogador da seleção brasileira, após ser derrotado no caldeirão de Contagem, me confidenciou que nunca havia visto um espetáculo tão belo como aquele. Que se sentiu em pleno Maracanã com a torcida do seu clube de coração apoiando-o. Disse ainda que queria um dia ter uma torcida tão vibrante apoiando o clube onde jogava.
Nos últimos tempos tenho acompanhado pela imprensa a reação de pessoas ligadas ao voleibol que criticam a presença de torcedores de futebol nas arquibancadas dos ginásios. Dizem que os “boleiros” não são bem vindos, que tumultuam o ambiente, que levam a violência para onde famílias antes frequentavam. Tais pessoas não frequentam o ginásio do Riacho em Contagem. Há vibração? Sim há. Há violência? Não há. Famílias e mais famílias têm acorrido aos jogos e após os jogos os jogadores dos dois times sobem nos alambrados para tirarem fotos com os torcedores. Quando saem do ginásio em direção aos seus ônibus, as delegações são saudadas por torcedores e torcedoras ávidas em conseguir algum souvenir ou uma simples foto com o celular. Pouquíssimos casos de excesso aconteceram e, os poucos que ocorreram foram devidamente tratados pela Polícia Militar, como no caso do torcedor que cuspiu no banco de reservas do Minas Tênis na primeira partida da semifinal deste ano. Imediatamente o torcedor foi retirado e identificado pelas autoridades. Excessos acontecem em todas as torcidas, como por exemplo, o episódio de racismo que aconteceu na Arena Vivo Minas. O tratamento também foi o mesmo, tentaram identificar, e embora não tenha sido identificada a torcedora, não se pode culpar a torcida toda por tal comportamento.
Na verdade, os adversários tentam marginalizar a Torcida Cruzeirense como se fossemos um bando de marginais. Não somos. Somos admiradores de um Clube, que muitas alegrias nos dá e, que agora, está nos propiciando mais oportunidades de acompanharmos mais esportes. Os adversários estão no seu papel. Disse ao técnico do Minas Tênis, naquele jogo, que sua tentativa de vilipendiar nossa torcida era uma jaculatória desviando o foco da disparidade de volume de jogo naquela data. As equipes adversárias tremem ao saber que terão que enfrentar o Cruzeiro em seu caldeirão com o apoio de uma torcida que não se cansa e canta durante duas horas ou mais. Sabem que William, Wallace, Filipe, Maurício, Douglas, Serginho, Acácio e companhia se multiplicam ao som do “Vamos, vamos, Cruzeirô”! É ruim de encarar nossa equipe potencializada pelo grito de nossa fanática torcida.
O fato é que o SADA Cruzeiro veio para ficar. Para escrever “Páginas Heroicas e Imortais” sob os cânticos de sua fanática torcida. Terão que nos aguentar, ou então investir nas suas próprias torcidas. Na verdade, assim como o brasileiro está viajando mais, passeando mais, consumindo mais, está tendo também, no caso de Belo Horizonte, acesso a um esporte onde somente a elite acompanhava. As escolinhas de vôlei do Cruzeiro estão bombando! Foi preciso fazer uma parceria com o SESI-MG para atendermos todas as crianças e jovens que querem seguir o exemplo de Filipe e Willian Arjona. Isso é muito bom! O esporte tira os jovens das ruas e dos vícios. As cidades do interior que abrigam equipes de voleibol devem estar muito satisfeitas com os resultados obtidos com o apoio ao esporte, como deve ser o caso de Araçatuba em São Paulo.
Devemos tirar o preconceito que paira sobre os esportes tidos como de elite e saber que o acesso aos meios de comunicação já os popularizou. Quando fui jogar tênis pela primeira vez no Minas Tênis, minha mãe teve que ir à Rollaveste comprar uma bermuda branca para mim... Hoje, joga-se com muita cor e muito mais emoção o mais elitista dos esportes. Qualquer criança já ouviu falar em Guga ou Federer.
Sou muito grato ao Minas Tênis Clube pelos ensinamentos que lá recebi e que forjaram em mim um amante e incentivador dos esportes. Também sou grato ao Cruzeiro Esporte Clube que me deixa exercitar tais dons. Ficarei grato também àquelas pessoas que tentam denegrir a empolgação de nossa torcida se passarem a observar a beleza que é um jogo de vôlei com muitos cânticos e gritos.
Em tempo: a Torcida Cruzeirense protagonizou um episódio triste, há tempos atrás que teve uma triste repercussão. Se penitenciou. Tanto é que, nas últimas vezes que o atleta ofendido voltou a Belo Horizonte, sempre foi tratado como ídolo e teve muito carinho por parte dos torcedores. A torcida do Cruzeiro aprendeu que voleibol é um ambiente onde deve reinar muito respeito ao ser humano e aos adversários. Quem sabe o ambiente das quadras não influencia o ambiente dos estádios? É um sonho e uma meta. Mas não confundam, os críticos, empolgação com atitude anti esportiva.