Em 29 de junho de 2002 houve um amistoso do Cruzeiro contra o Uberaba no estádio do adversário. Era uma oportunidade de nosso treinador, Marco Aurélio, colocar alguns jovens talentos para que pegassem experiência ou mostrassem serviço. Jovens como Wendel, Gomes, Recife, Jussiê, dentre outros deveriam aproveitar tal oportunidade.
Lembro-me muito bem daquela data, pois amanheceu um lindo dia ensolarado em Belo Horizonte, e ao acordar, a primeira coisa que fiz foi verificar o céu, pois no final da manhã eu e minha filha Ana Letícia, iríamos embarcar em um vôo da antiga Total Linhas Aéreas, com destino a Uberaba para assistirmos o clássico estadual Cruzeiro x Uberaba. Nunca escondi de ninguém que não me dava bem com aviões e que sempre ficava apreensivo quando viajava em algum deles. O simples pensamento de voar em um turbo-hélice ATR-42 já me deixava atarantado. Porém, havia prometido à minha filha Ana Letícia que um dia a levaria para assistir um jogo do Cruzeiro, viajando com a delegação. A importância da partida e o consequente interesse despertado em outros Conselheiros fizeram com que o preço ficasse bem convidativo.
Bem, o fato é que, Benecy Queroz me telefonou, pegou os nomes e números das carteiras de identidade e informou o horário que deveríamos estar presentes no embarque do aeroporto da Pampulha. Incontinenti me dirigi para o aeroporto com Ana Letícia, que à época tinha doze anos.
Lá chegando, aguardamos a chegada do ônibus que trazia a delegação diretamente da Toca da Raposa II (recém inaugurada), e ao nos juntarmos aos jogadores e comissão técnica, nos dirigimos para o embarque no possante avião de origem italiana.
Decolamos e rumamos para Uberaba. Eu na poltrona do corredor e Ana Letícia na poltrona da janela. Como era a primeira vez que ela viajava em um avião com hélices, ela ficou muito impressionada com a potência e o barulho daqueles motores. Entretanto, o calor que fazia dentro da aeronave era africano. Várias vezes pedi às comissárias que ligassem o ar-condicionado que insistiam em informar que já estava no máximo.
Tirando o calor, tudo corria bem e o vôo era bem tranquilo. Começamos os procedimentos de descida para o aeroporto de Uberaba, quando um jato de ar muito forte começou a soprar em nossos pés e Lelê comemorou dizendo: Papai, ligaram, até que enfim, o ar!
Imediatamente alguém, que estava assentado na fileira da frente, gritou desesperado: Não ligaram não! Foi a porta de emergência que abriu!
Era Waldir Barbosa que estava assentado em nossa frente e estava muito assustado. Levantei-me e fui até ele, que estava com os cintos atados e se segurava nos braços da sua poltrona. Na verdade, a porta realmente abrira, mas não havia saído, estando presa por uma espécie de trava de segurança. Porém, através da fresta entre a porta e a fuselagem, era possível passar um braço, o que, aliado à velocidade do avião, para nosso desespero produzia um barulho ensurdecedor. Da cadeira de Waldir, corri até a porta da cabine dos pilotos e pedi socorro. Para meu espanto, o co-piloto veio ver o que acontecia e com a cara mais lambida deste mundo, vaticinou que não havia perigo e que, após a aterrissagem, consertaria o defeito da porta.
Realmente aterrissamos sem problemas e pegamos o ônibus que nos levaria até o estádio João Guido, onde vencemos o Uberaba pelo elástico placar de 4x0. Os gols foram marcados por Jorge Wagner (2), Jussiê e Joãozinho. Foi um amistoso muito proveitoso onde Marco Aurélio pode fazer muitas observações.
Após o jogo, pegamos o ônibus e nos dirigimos ao aeroporto, onde o avião nos aguardava para a viagem de volta. Waldir Barbosa me chamou para uma conversa reservada e me segurou até que todos os outros membros da delegação embarcassem. Após todos terem entrado, me dirigi à aeronave e percebi que haviam consertado a porta e que a poltrona ao lado da porta estava vaga. Aproveitando que o avião tinha vindo com vários lugares vagos, a diretoria do Cruzeiro convidou alguns repórteres para que voltassem conosco, o que lotou o avião. Fui procurar outro lugar para assentar e não achei... O único lugar vago era o que ficava ao lado da porta que havia se soltado. Perguntei ao comandante se haveria perigo e ele me garantiu que não havia. Voltando contrariado para meu lugar, passei por Zezé Perrella que matreiramente piscou o olha para mim e disse: Pedi ao Waldir para você embarcar por último para assentar ao lado da porta, porque como você é o mais gordinho, se a porta se soltar totalmente, você não será sugado, ao contrário, vedará a abertura e não corremos o risco de cair lá embaixo!...
Desnecessário ressaltar que, após a viagem de volta, nunca mais tive medo de viajar de avião...
Nenhum comentário:
Postar um comentário