Tenho visto e lido muitas coisas a respeito do lado
financeiro dos clubes de futebol faladas e discutidas em programas de
televisão. Muitas enquetes, opiniões de comentaristas e demonstrações de
desconhecimento do assunto são vistas e ouvidas diariamente nos programas
esportivos. Também o assunto patrocínio por parte de empresas estatais também
grassa na mídia esportiva. Discorrerei sobre ambos os assuntos no presente
texto, tentando mostrar de maneira simples e didática a minha opinião, que se
baseia no fato de ter sido (e ainda ser até abril 2015) Conselheiro Fiscal no
Cruzeiro e empregado da Caixa Econômica Federal, que é a estatal que mais apoia
o futebol com patrocínio nas camisas.
Medida provisória aprovada pela Câmara e pelo Senado:
Na
semana compreendida entre 14 de dezembro e 20 de dezembro deste ano foi votada
na Câmara Federal e no Senado da República uma medida provisória que discorre
sobre a situação fiscal dos clubes brasileiros. Tal medida foi aprovada e, a partir
daí, foi encaminha à sanção da presidência da República, isto é, aguarda a
aprovação do Poder Executivo. Várias partes interessadas, e que participaram
das negociações, se sentiram traídas, pois a medida provisória não incluiu em
seu texto alguns tópicos que interessavam aos jogadores, aos clubes e também ao
governo, o Fair Play financeiro. Da maneira como a medida foi votada, ficou a
sensação de que o que aconteceu foi a aprovação de um novo REFIS específico,
que tem como foco simplesmente a negociação da dívida fiscal dos clubes. É bom
lembrar que, recentemente, foi aprovado outro REFIS, o chamado REFIS da Copa,
ao qual muitos clubes aderiram, cansados de esperar a Lei de Responsabilidade
Fiscal dos Clubes ser votada.
Ao que
me consta, a parte que mais interessava aos movimentos envolvidos na questão,
ficou por conta do regulamento das competições, o que repassa à CBF, a tarefa
de fiscalizar, acompanhar e punir os clubes que não cumprirem o regulamento.
Entendo que assim realmente não agradou a todos, pois sabemos que o lado
político, econômico e geográfico sempre influenciou a CBF em suas decisões.
Melhor seria que uma lei federal fizesse a regulamentação de tal assunto e
estipulasse punições e responsabilidades aos que estivessem com a tarefa de
fazer cumpri-la.
Quanto
aos descontos dados nos juros e correções das dívidas são comuns em
renegociações de débitos, em bancos, financeiras, cartões de crédito e mesmo em
dívidas fiscais em prefeituras, estados e na União. Não se dá desconto em
dívida (o valor inicial devido). Dá-se um desconto na taxa de juros e outros
emolumentos. Adequa-se o percentual de juros à realidade do momento econômico
que o país vive. Como as dívidas são antigas, alguns índices poderiam ser
exorbitantes e não corresponder à estabilidade econômica que vivemos.
Não foi favor específico e
inventado para nenhum clube de futebol. Se houve algum favor foi o fato de se ampliar
o prazo de pagamento para 240 meses (20 anos), pois no REFIS da Copa o prazo
foi menor. Assim sendo, os valores das prestações diminuem, pois o prazo
aumenta.
Como a medida provisória foi
votada agora, os débitos fiscais até a data da aprovação são passíveis de serem
incluídos no parcelamento. Levarão vantagem os clubes que estavam com dívidas
recentes, como Cruzeiro, São Paulo e até mesmo o Flamengo, que vem cumprindo à
risca os acordos anteriores. Assim sendo, tais clubes poderão receber suas
certidões negativas de tributos com maior agilidade que os outros que levarão
um tempo maior para conciliar seus débitos, a não ser que concordem com os
valores cobrados pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e os reconheçam.
Patrocínio de empresas estatais:
Antes
de tudo devo me manifestar a favor dos patrocínios de empresas estatais, não só
no esporte, como em qualquer atividade que possa lhes oferecer visibilidade.
Muitas empresas estatais estão disputando mercado com empresas privadas e o sucesso
de suas atividades decorre também da exposição de suas marcas. Entendo que uma
empresa pública que não oferece seus produtos esta incorrendo em favorecimento
da marca concorrente.
Assim
sendo, sou um defensor ferrenho dos bancos públicos exporem suas marcas em
diversos clubes esportivos. Coube à Caixa Econômica Federal a primazia de
estampar sua marca nas camisas dos times de futebol.
Muito
tenho visto na imprensa as afirmações de que a Caixa está comprometida com o patrocínio
de diversos times que se encontram sem o patrocinador máster. Já li que a Caixa
patrocinará o Cruzeiro, o Atlético Mineiro, o América Mineiro, o Santos, o
Palmeiras, o Fluminense e vários outros expoentes do futebol. Gostaria que
assim fosse. Mas não é assim que funciona.
Primeiramente
temos que lembrar que, a Caixa, por ser uma Empresa Pública está sujeita à
legislação competente que rege os patrocínios públicos. Um dos primeiros
preceitos é que não se pode patrocinar uma entidade que esteja em dívida com o
governo federal. Para colocar a marca da Caixa em sua camisa, é necessário
estar com a situação fiscal em dia e também, para receber as parcelas mensais do
contrato, mensalmente deve-se comprovar que os tributos estão em dia. De que
adianta aderir ao REFIS, fechar um patrocínio com a Caixa e não manter os
pagamentos de tributos em dia? A Caixa depositará os valores bloqueados em
conta corrente e não os liberará. Isso acontece atualmente com o Vasco da Gama,
patrocinado pela Caixa: fechou um patrocínio de muitos milhões de reais por ano
e não pode colocar a mão no dinheiro, pois está bloqueado. O próprio Cruzeiro
tem um recurso bloqueado em conta (do patrocínio do atletismo) por não
apresentar as certidões. Outro fator dificultador é que os recursos somente
serão liberados caso haja uma prestação de contas mensal do gasto do dinheiro.
Muitos clubes não conseguem prestar contas, pois nem sempre possuem notas de
despesas. Difícil de acreditar, mas acontece.
Vários
clubes veem em tais exigências um dificultador, pois o patrocínio privado não prevê
prestação de contas e somente cláusulas de desempenho. Gasta-se como bem lhes convém, o que, com
certeza, é mais propício para gastos ilícitos e também para desvios.
É bom
ressaltar que a Caixa, como empresa pública, deve se pautar pelo regime da
transparência de seus atos e, para tanto, deve definir uma previsão de gastos
com patrocínios e ter seu orçamento aprovado pelo Conselho Diretor. Estamos em
uma época do ano e principalmente em uma época política, na qual não se sabe
ainda os destinos das empresas estatais no ano que virá. Dúvidas como os nomes
dos dirigentes (haverá mudanças na direção da empresa?), o foco a ser dado pela
área de marketing (continuará ensejando o futebol?), o fato de ser necessário
o contingenciamento dos gastos públicos
e a orientação do novo Ministro da Fazenda podem fazer com que a Caixa deixe de
patrocinar até os atuais clubes por ela patrocinados.
Assim sendo,
as eventuais reuniões de clubes com a Caixa, não são definitivas. São apenas
visitas nas quais se mostram as intenções de cada parte, e nas quais se demonstram
os potenciais mercadológicos que cada marca de clube possui. É impossível, no
dia de hoje, assegurar que patrocínios estão bem encaminhados ou fechados.
Qualquer
informação dada, além disto, é mera especulação.
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