No
longínquo início do século XX, alguns italianos, incentivados pelo Consulado da
Itália, resolveram fundar um clube onde poderiam se encontrar, conviver e
reviver as tradições e costumes do país que deixaram para trás quando para o
Brasil vieram. Havia ainda a necessidade de se manter o senso de Nação
Italiana, tão carente em alguns oriundi que aqui chegaram quando a Itália ainda
engatinhava como país recém unificado e formado.
A fundação
da Società Sportiva Palestra Italia foi feita sob o escopo de manter e
preservar o que poderia ser perdido quando misturado com a cultura da cidade
que recebia o povo italiano, que para cá veio construí-la.
Logo após
a fundação, o Palestra foi bombardeado com ilações diversas, como “time de
estrangeiros”, “gente que não se mistura” entre outras pechas. Com o tempo
mostramos o que éramos e somos: uma gente amiga, trabalhadora, pagadora de
impostos e que cultiva a amizade e a paz.
Em 1942 o
Brasil declara guerra aos países do “Eixo” e é exarada uma lei que obriga as
instituições de origem italiana, alemã e japonesa a mudarem seus nomes, caso
fizessem alusão a seus países. O Palestra Italia é obrigado a mudar de nome e
adota como nova identidade o símbolo máximo da República Brasileira, o Cruzeiro
do Sul.
Não foi
uma mudança tranquila, pois, muitos aproveitaram tal momento para extirpar do
meio Cruzeirense, a influência da Comunidade Italiana que fundara o velho
Palestra. Os velhos italianos, seus filhos e também netos, reagiram com
bravura, preservando, às vezes no braço, o legado dos pais fundadores de 1921.
Muitos italianos tiveram suas padarias, lojas, comércio de material de
construção e outros negócios, destruídos pela turba insuflada por uma
propaganda odiosa, incentivada por muitos concorrentes que viam no quebra-quebra,
a possibilidade de extirpar um concorrente poderoso devido a sua laboriosidade.
Atos covardes foram perpetrados contra a comunidade italiana que viu, no seu
Palestra Italia, a última fronteira a ser defendida. Assim nasceu o Cruzeiro
estampado na “maglia azurra” que recorda a seleção nacional italiana.
Coube a
outro italiano ilustre, já em tempos de Cruzeiro, catapultar nosso time de
colônia aos píncaros do futebol mundial. Na década de 1960 coube a Felice
Brandi a missão de modernizar nosso Clube e dar um salto de qualidade em
relação aos mais importantes times do eixo Rio-São Paulo. Começamos massacrando
o Santos de Pelé e em seguida ganhamos as Américas conquistando a Libertadores.
Tivemos a ousadia de enfrentar de igual para igual a poderosa seleção tedesca,
campeã mundial em 1974, vestida com o uniforme do Bayern de Munique.
Em tempos
mais recentes, diversas administrações trouxeram sobrenomes italianos em suas
composições e dentro dos Conselhos Deliberativo e Fiscal. Tempos de paz e
concórdia levaram o Clube, apoiado em suas origens e tradições, a glórias
memoráveis!
Recentemente,
a lembrança de que tais origens e tradições estão sendo esquecidas, provocou a
insatisfação por parte de muitos dentro do Clube. A máxima de que “o Cruzeiro
não é mais um time italiano, é um time do mundo” grassa, erroneamente, pelos
corredores da sede administrativa. Neste ano a Bandeira da Italia foi proibida
de entrar em campo com os Palestras...
É sempre
bom relembrar que, não se apaga um sobrenome, a não ser que haja algum grande
perigo iminente. Muda-se um nome, mas não se muda uma História! Bom relembrar também
que todos nós temos uma origem, brasileira, italiana ou qualquer outra. Todos
nos orgulhamos muito de nossas origens e as valorizamos muito. Tentar apagar um
sentimento, principalmente de origem, sangue e coração é um erro crasso.
Esperamos
que tais tentativas de travessia do Piave, já tentadas de outras vezes
infrutiferamente, não prosperem e sejam fruto de uma triste coincidência. Os
italianos do Palestra/Cruzeiro sabem transigir pelo bem do Clube, mas sabem
também esperar sua vez, afinal, como era comum dizer à época da fundação do
Palestra sobre os italianos: “O bom sangue não mente!”
Ótimo texto Anísio! O Palestra jamais pode esquecer suas origens, tente influenciar a diretoria para que essa tradição não se perca. "Eu nasci Palestra sou Cruzeiro, e como galinhas no jantar..."
ResponderExcluirÉ o que mais faço ultimamente...
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