Mudei-me para Belo Horizonte em 1967 e meu pai escolheu o
bairro Santo Antônio para morarmos. Nosso apartamento, comprado com
financiamento da Caixa Econômica Federal, fica a três quarteirões do Minas
Tênis Clube. A primeira providência de
meu pai em Belo Horizonte foi comprar uma cota do Minas Tênis, o que muito nos
agradou. À época, não havia muros em boa parte da lateral do clube que ficava
na Rua Espírito Santo. Havia uma pequena cerca de madeira e o fechamento era
feito com plantas altas. Logo em frente à portaria da mesma rua, havia um
conjunto de escorregadores de madeira que ficavam sobre a piscina infantil e
era um sucesso.
Com o
tempo cresci, sempre frequentando o Minas Tênis, e levando em conta o lema do
clube que é “Cultura, Esporte e Educação”. Passei no concurso para estudar no
Colégio Estadual Central. Assim, ia para as aulas todos os dias e após o
horário escolar, me dirigia para o clube onde frequentei diversas escolinhas, e
inclusive fazia ginástica no gramado com o Professor Macedo, que distribuía
balas de mel após as lições. Joguei vôlei ao lado de Rogério Costa de Faria,
Helberto, Antônio Pinico, o falecido Pirão, Henrique Bassi e tantos outros que
brilharam no esporte. Frequentei o judô do Professor Albano e de seus filhos
Francisco e Banoca, como também frequentei o basquete com amigos como Sylo
Costa e outros craques. Nadei ao lado dos irmãos Medioli e tentava acompanhar o
que tinha a minha idade, o Alexandre, coisa que nunca consegui. Nunca fui
titular de nenhuma das equipes, mas ia aos jogos, torcia muito e participava
bastante. Comigo valia o lema de “o importante é competir”. Em 1978 o Brasil
possuía um técnico de futebol, Cláudio Coutinho, que gostava muito de jogadores
multidisciplinares, a quem ele chamava de “polivalentes”. Eu, dentro do Minas
Tênis Clube, era o próprio polivalente: jogava tudo mas não era bom em nada.
Apesar de minha pouca capacidade esportiva, tinha uma grande capacidade
aglutinadora, o que fazia com que conseguisse muitos amigos e me divertisse
bastante, principalmente nas domingueiras no salão de festas, as famosas Missas
Dançantes. Eu era muito popular, como dizem hoje.
Lembro-me
sempre com muito carinho da torcida Minastenista no antigo ginásio da Rua da
Bahia, onde o clube escreveu também páginas heroicas e imortais. Porém, faltava
à torcida de meu clube a empolgação que eu via nas arquibancadas do Mineirão
quando ia ver meu Cruzeiro jogar. Após os jogos de vôlei, sempre pintava um
sanduíche americano no restaurante do Clube para os atletas, e eu era sempre
convidado como representante da torcida.
Em 1991
sofri um grande baque financeiro, que me obrigou a vender minha cota do Minas
Tênis Clube. Após assinar a transferência da cota, fui trabalhar e ao chegar
lá, na agência Barro Preto da Caixa Econômica, encontrei o Presidente César
Masci que precisava conversar comigo sobre a cobrança dos boletos do condomínio
do Cruzeiro que seria feita pela Caixa. Contei a ele que tinha vindo da sede do
Minas Tênis, que tinha vendido minha cota e me emocionei. Disse a ele que um
pedaço de minha vida tinha ido embora naquela manhã. Ele se emocionou comigo e
disse que morreria se vendesse sua cota do Cruzeiro. Disse que, com o tempo eu
compraria outra cota e que era para ter paciência, pois tal dia chegaria logo. Para
remediar a situação, me ofereceu uma cota do Cruzeiro a preços bem módicos.
Aceitei e comprei a cota.
Estranhava muito que o Cruzeiro
era um Clube muito completo, porém dava muito valor ao futebol e pouco valor a
outros esportes olímpicos. O Cruzeiro sempre teve equipes e escolinhas de
natação, vôlei, basquete, bocha e outros esportes, porém, faltava a força que
davam ao futebol. Minha escola
clubística, forjada no Minas Tênis Clube, sempre me impeliu a trabalhar com o
escopo de transformar a estrutura do Cruzeiro em uma grande potência olímpica.
Há que se ressaltar que o Cruzeiro possui diversas medalhas olímpicas oriundas
dos jogadores de futebol que cedemos para as equipes olímpicas. No final de
2008 tal oportunidade começou e se realizar com a parceria entre o SADA Vôlei e
o Cruzeiro Esporte Clube. O primeiro passo do meu projeto pessoal olímpico fora
dado.
Fiz esse preâmbulo todo, contando
um pouco mais de minha história, para chegar ao assunto que titula este texto.
A popularização do vôlei e a presença da torcida do Cruzeiro nos ginásios. A
partir do início das atividades do SADA Cruzeiro, nada mais esperado que a
torcida celeste aproveitasse a oportunidade e passasse a frequentar os ginásios
onde nossos Guerreiros das Quadras se apresentassem. Foi o que ocorreu. Nos
últimos anos, o Cruzeiro tem sido o Clube que mais tem levado gente aos ginásios
em todo o Brasil. Não só por sua fanática torcida, como também por torcidas
adversárias que correm para ver seus times enfrentar uma equipe da mais
alta qualidade. A torcida do Cruzeiro nos ginásios, assim como nos estádios,
tem feito uma enorme diferença. Cantam e apoiam durante todo o jogo. As canções
que são entoadas nos estádios são levadas para as arquibancadas dos ginásios, e
empurram nosso time e intimidam os adversários acostumados a jogar contra
torcidas que usam “bate-bates” como maneira de fazer barulho.
Nossa torcida intimida sim, mas
também encanta. Recentemente um jogador da seleção brasileira, após ser
derrotado no caldeirão de Contagem, me confidenciou que nunca havia visto um
espetáculo tão belo como aquele. Que se sentiu em pleno Maracanã com a torcida
do seu clube de coração apoiando-o. Disse ainda que queria um dia ter uma
torcida tão vibrante apoiando o clube onde jogava.
Nos últimos tempos tenho
acompanhado pela imprensa a reação de pessoas ligadas ao voleibol que criticam
a presença de torcedores de futebol nas arquibancadas dos ginásios. Dizem que
os “boleiros” não são bem vindos, que tumultuam o ambiente, que levam a
violência para onde famílias antes frequentavam. Tais pessoas não frequentam o
ginásio do Riacho em Contagem. Há vibração? Sim há. Há violência? Não há.
Famílias e mais famílias têm acorrido aos jogos e após os jogos os jogadores
dos dois times sobem nos alambrados para tirarem fotos com os torcedores.
Quando saem do ginásio em direção aos seus ônibus, as delegações são saudadas
por torcedores e torcedoras ávidas em conseguir algum souvenir ou uma simples
foto com o celular. Pouquíssimos casos de excesso aconteceram e, os poucos
que ocorreram foram devidamente tratados pela Polícia Militar, como no caso do
torcedor que cuspiu no banco de reservas do Minas Tênis na primeira partida da
semifinal deste ano. Imediatamente o torcedor foi retirado e identificado pelas
autoridades. Excessos acontecem em todas as torcidas, como por exemplo, o
episódio de racismo que aconteceu na Arena Vivo Minas. O tratamento também foi
o mesmo, tentaram identificar, e embora não tenha sido identificada a torcedora,
não se pode culpar a torcida toda por tal comportamento.
Na verdade, os adversários tentam
marginalizar a Torcida Cruzeirense como se fossemos um bando de marginais. Não
somos. Somos admiradores de um Clube, que muitas alegrias nos dá e, que agora,
está nos propiciando mais oportunidades de acompanharmos mais esportes. Os
adversários estão no seu papel. Disse ao técnico do Minas Tênis, naquele jogo,
que sua tentativa de vilipendiar nossa torcida era uma jaculatória desviando o
foco da disparidade de volume de jogo naquela data. As equipes adversárias
tremem ao saber que terão que enfrentar o Cruzeiro em seu caldeirão com o apoio
de uma torcida que não se cansa e canta durante duas horas ou mais. Sabem que
William, Wallace, Filipe, Maurício, Douglas, Serginho, Acácio e companhia se
multiplicam ao som do “Vamos, vamos, Cruzeirô”! É ruim de encarar nossa equipe
potencializada pelo grito de nossa fanática torcida.
O fato é que o SADA Cruzeiro veio
para ficar. Para escrever “Páginas Heroicas e Imortais” sob os cânticos de sua
fanática torcida. Terão que nos aguentar, ou então investir nas suas próprias
torcidas. Na verdade, assim como o brasileiro está viajando mais, passeando
mais, consumindo mais, está tendo também, no caso de Belo Horizonte, acesso a
um esporte onde somente a elite acompanhava. As escolinhas de vôlei do Cruzeiro
estão bombando! Foi preciso fazer uma parceria com o SESI-MG para atendermos
todas as crianças e jovens que querem seguir o exemplo de Filipe e Willian
Arjona. Isso é muito bom! O esporte tira os jovens das ruas e dos vícios. As
cidades do interior que abrigam equipes de voleibol devem estar muito
satisfeitas com os resultados obtidos com o apoio ao esporte, como deve ser o
caso de Araçatuba em São Paulo.
Devemos tirar o preconceito que
paira sobre os esportes tidos como de elite e saber que o acesso aos meios de
comunicação já os popularizou. Quando fui jogar tênis pela primeira vez no
Minas Tênis, minha mãe teve que ir à Rollaveste comprar uma bermuda branca para
mim... Hoje, joga-se com muita cor e muito mais emoção o mais elitista dos
esportes. Qualquer criança já ouviu falar em Guga ou Federer.
Sou muito grato ao Minas Tênis
Clube pelos ensinamentos que lá recebi e que forjaram em mim um amante e
incentivador dos esportes. Também sou grato ao Cruzeiro Esporte Clube que me
deixa exercitar tais dons. Ficarei grato também àquelas pessoas que tentam
denegrir a empolgação de nossa torcida se passarem a observar a beleza que é um
jogo de vôlei com muitos cânticos e gritos.
Em tempo: a Torcida Cruzeirense
protagonizou um episódio triste, há tempos atrás que teve uma triste
repercussão. Se penitenciou. Tanto é que, nas últimas vezes que o atleta
ofendido voltou a Belo Horizonte, sempre foi tratado como ídolo e teve muito
carinho por parte dos torcedores. A torcida do Cruzeiro aprendeu que voleibol é
um ambiente onde deve reinar muito respeito ao ser humano e aos adversários.
Quem sabe o ambiente das quadras não influencia o ambiente dos estádios? É um
sonho e uma meta. Mas não confundam, os críticos, empolgação com atitude anti esportiva.
Parabéns pelo post, e pelo incentivo que sempre deu ao SADA Cruzeiro, eu como torcedor cruzeirense, aprendi a gostar de volei, e torço como se fosse mais um jogo de futebol. Assim como eu conheço uma serie de outros cruzeirenses, que antes achavam volei um jogo de "maricas", tendo uma visão preconceituosa e superficial, mas assim como eu se apaixonaram pelo esporte.
ResponderExcluirBelissimo texto!!
ResponderExcluirE vamos SADA CRUZEIRO ser campeão!!!
Parabens pelo texto....e essa rivalidade entre MTC e Contagem/Riacho vem desde a epoca do voleibol da Unisa,onde tive o prazer de participar de memoraveis partidas do infantil ao adulto no campeonato mineiro/metropolitano.
ResponderExcluirtambem morei ali pertinho e fui no Felicio pedir camisas para nosso time da região.Ganhamos uniformes completos para todos com meião , calção e chuteira.adoramos e nunca esquecerei o gesto dele.tambem era sócio do Minas e frequentava a região.morava na contorno quase com Curitiba.Bons tempos aqueles em levava as bolas para arrumar na rua da Bahia.Concordo com tudo que disse.Quando o Atletico fez aquele timão de voley ficava sonhando com um dia tambem termos um time.Agora temos e estou muito feliz com isso.
ResponderExcluirPerfeito o texto ! E vamos ser campeões SADA Cruzeiro !
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