quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O dia em que a torcida do Cruzeiro gritou meu nome no Mineirão!

O dia em questão foi 20 de novembro de 1991, data da finalíssima da Supercopa dos Campeões da Libertadores das Américas. Foi um dia de muitas glórias, mas também de muito trabalho. 
À época, eu era Gerente Adjunto da Agência Barro Preto da Caixa Econômica Federal. Havia pouco tempo, a Minascaixa havia fechado suas portas e nós, da Caixa Federal havíamos assumido as contas da instituição extinta. Dentre essas contas, havia uma jóia: a conta do Cruzeiro Esporte Clube. Para mim, foi uma felicidade sem fim: fazer o pagamento dos salários e prêmios dos jogadores e ídolos, ser conhecido por eles e principalmente, ter acesso às instalações da Toca da Raposa era a realização de vários sonhos ao mesmo tempo.
Naquele dia, em questão, com o time concentrado, recebi a missão de entregar aos jogadores os recibos de depósito referentes ao pagamento do "bicho" pela classificação na semi-final nos pênaltis sobre o Olímpia do Paraguai. Benecy Queiroz me mandou a lista de créditos e após autenticarmos os depósitos, me dirigi à Toca da Raposa. Vale a pena relembrar que anteriormente, eu ia com uma mala cheia de dinheiro e pagava a cada um em espécie, um perigo em termos de segurança. Sugeri e Benecy aprovou, que fizéssemos os créditos em conta e entregássemos os recibos.
Era assim: cada atleta era chamado individualmente na sala da comissão técnica e, na presença do Benecy e do técnico (o saudoso Ênio Andrade) recebia o recibo e ouvia palavras de reconhecimento e gratidão pelo feito. Eu ficava azul de tanta felicidade de poder partilhar tais momentos!
Logo após as entregas, feitas estrategicamente no dia da finalíssima, deparei com Mário Tilico, Boiadeiro e Marquinhos assentados na porta do vestiário conversando sobre o jogo daquela noite. Perguntei sobre o que fariam com o dinheiro do "bicho", se queriam guardar na caderneta de poupança e ouvi uma pérola do Tilico: Com o dinheiro não sei o que vou fazer, mas no final do jogo sei o que fazer. Caso eu jogue muito bem, faltando uns três minutos para acabar, vou levar as mãos na coxa e pedir para ser substituído. Se eu tiver feito o gol do título, quando eu sair o Mineirão desaba! 
Rimos muito do ponta direita do Cruzeiro, que tinha vindo comprado do São Paulo em mais uma jogada de raposa do nosso presidente, à época, César Masci.
Retornei aos afazeres na Caixa e fui embora mais cedo, pois tinha que estar a postos no Mineirão para continuar minha faina. Com o escopo de agradar o Cruzeiro e encantar o pessoal do futebol, propus ao Benecy, que a partir da abertura da conta, os empregados da Caixa iriam ao Mineirão em todos os jogos para buscar o dinheiro do jogo e despachá-lo através de um carro forte. Pode parecer o óbvio hoje, mas, antes, o dinheiro era jogado em um malote de roupas, e uniformes usados eram jogados por cima, disfarçando o conteúdo do malote. O malote era levado para a Toca da Raposa, colocado em uma sala trancada e no dia seguinte remetido para o depósito na agência bancária. Um perigo! Assim sendo, visando mudar a rotina, propus o carro forte, pago pela Caixa, que buscaria o dinheiro da renda no Mineirão após o jogo e no dia seguinte já entregaria na Caixa do Barro Preto. Benecy aceitou e ficou livre da rotina de ficar aguardando a confecção do borderô, tarefa que agora cabia a mim.
Eu tinha duas cadeiras cativas e ia ao jogo sempre com meu pai, grande companheiro de grandes jornadas cruzeirenses. Foi um jogo de grandes emoções com jogadas fantásticas de um time fantástico! No final, vencemos por 3x0, com um gol de Ademir no primeiro tempo e dois de Mario Tilico, no segundo tempo. Como havíamos perdido o primeiro jogo por 2x0 em Buenos Aires, precisávamos vencer por 3x0. Aos 29 minutos do segundo tempo, Tilico fez o gol do título. Na hora me lembrei da promessa que fizera na porta do vestiário. Virei para meu primo que estava ao meu lado e disse: Tilico não está bem. Sinto que ele terá uma contratura muscular no adutor da coxa esquerda a qualquer momento e será substituído. Meu primo riu, disse que queria que eu dissesse os números do próximo sorteio da sena. Mediante a minha insistência, apostamos uma cerveja que Tilico sairia contundido.
Aos quarenta e quatro do segundo tempo, Tilico leva a mão à coxa, faz o gesto de que quer ser substituído e vai para a lateral ser atendido pelo Dr. Ronaldo Nazaré. O Mineirão quase desabou: Tilico! Tilico! Tilico! O pessoal que estava em volta de mim ficou abismado com o meu conhecimento futebolístico, pois, com quase quinze minutos de antecedência eu vaticinara a contusão. Houve até um que disse: eu vi que desde o final do primeiro tempo ele estava mancando...
Bem, o jogo acabou, Tilico se consagrou e eu corri para completar minha missão: contar o dinheiro da renda, assinar o borderô pelo Cruzeiro, colocar as cédulas no malote e despachá-lo pelo carro forte.
A tesouraria do Mineirão, à época, ficava ao lado das escadarias que vinham dos vestiários, perto do setor de cadeiras numeradas servidas pelo portão de número dois. Os jogadores saiam obrigatoriamente por aquela escadaria e passavam na porta da tesouraria, repleta de soldados da PM que faziam a segurança. A torcida, sabedora que o trajeto dos jogadores era por ali, ficava apinhada na tela que separava a parte externa da interna e saudava os seus heróis que passavam. Naquele dia, campeões de um torneio do calibre da Supercopa, a torcida estava ensandecida e fazia a maior festa nas telas em cima da tesouraria. Enquanto aguardava a contagem do dinheiro pelos funcionários da ADEMG eu ficava na porta e abraçava cada um dos jogadores, que com a minha constante presença na Toca, já havia virado amigo de todos. Passou o Paulo César Borges e eu o abracei e cumprimentei. Nonato e Paulão também ganharam meu abraço. Adílson Batista ganhou um demorado cumprimento com direito a resenha. Célio Gaúcho me pediu uma carona para a Toca da Raposa, pois achava que o ônibus iria demorar bastante. Ademir, Macalé, Luiz Fernando e Charles não se continham em emoção. Boiadeiro me pediu desculpas, pois o recibo que eu entregaria dias depois já tinha destino certo: a compra de uma "bezerrada" no interior de São Paulo. Marquinhos, bom baiano, festejou muito e Tilico então, foi quem eu mais fiz festa, afinal, ganhei fama e cerveja às custas dele. Demos boas risadas.
O mais interessante era que, quando cada um passava, eu cumprimentava e o ídolo seguia por um corredor, com a torcida logo ao lado na tela que gritava a todo pulmão: PC, seleção! Nonato, seleção! Tilico, seleção!
E também para a comissão técnica e diretoria: Ronaldo Nazaré, seleção! César Masci, seleção! Benecy, seleção!! Ênio Andrade, seleção! E eu lá, na maior felicidade, abraçando e comemorando com todos!
No final, quando não havia mais quase ninguém mais para sair dos vestiários, um gaiato da Mafia Azul me chamou da tela e perguntou: quem é você que abraça e conversa com todo o mundo? Eu respondi: sou o gerente do banco que paga os salários deles.
Prontamente a Máfia Azul e demais torcedores entoaram em alto e bom som para meu orgulho e gáudio: Gerente, seleção! Gerente, seleção!
Foi a glória! A torcida do Cruzeiro me pedindo para a seleção. Que pena que o Ricardo Teixeira não estava lá naquela hora.

3 comentários:

  1. risos ... boa história! Estive neste jogo e realmente foi um jogassooooo .. aquele arrancada do Charles para cima do Rivarola e o passe na medida para o Tilico completar para as redes estão em minha memória até hoje! Aquele titulo foi muito importante para o Cruzeiro que há muito não ganhava nada. Alias foi o primeiro grande título que eu vi o meu time ganhar.

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  2. Este jogo não sai da minha memoria, e o encontro de nossa turma foi alterado para o bar 30. Todos me questionava o porque desta alteração. O numero do bar, era pra energizar a necessidade de nossa vitoria. 3x0 . Sai bebado de alegria, junto com Rubinho, Geraldo, Cabeça, Victor, Rosimar, Gabriel. Saudações Celestes ©

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  3. Quem não teve oportunidade de ver esse jogo. tá aqui: http://www.youtube.com/watch?v=KhjAu_EcTeU


    Olhem a postura de campeão desse time.

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