segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A primeira vez que levei meu filho ao Mineirão!

                
                Não me lembro da data e nem o placar. Me lembro do adversário que era o América Mineiro. O ano era de 1999, o dia da semana era um domingo.
                Para variar, após o almoço, beijava minha esposa e ia para o Mineirão bater o ponto em mais um jogo do Cruzeiro. Aquele domingo era um domingo especial, afinal, seria a primeira vez que levaria o Tiago, meu filho caçula, ao Mineirão. Detalhe: ele ainda não tinha completado um ano de vida. É lógico que aquele beijo que dei na Beatriz foi um beijo dramático, pois, como qualquer mãe zelosa, tentava de toda maneira me fazer desistir do passeio com o pequenino. Chorou, emburrou, ameaçou fazer greve, ligou para a sogra, prometeu queimar minha coleção de camisas, mas nada me convenceu de que não deveria levar o Tiago ao jogo. Afinal de contas, o primeiro jogo que assisti no Mineirão eu tinha seis anos. Comecei muito tarde. Queria que meu filho começasse bem cedo.
                Vesti nele um uniforme da torcida Baby, amarrei-o na cadeirinha do carro e fomos os dois, só os dois para o programa que após aquele dia se tornou um ritual para nós nos dias de jogos.
                Ao chegar no Mineirão, parei meu carro no estacionamento e me dirigi à bilheteria para comprar nossos ingressos. Apesar de ser um bebê, Tiago deveria colocar aquele ingresso em um quadro e preservá-lo para sempre. Aquele ingresso seria a marca de um ritual de iniciação.
                Logo que cheguei à bilheteria, com o Tiaguinho no colo, entrei na fila e, como de costume, havia uma confusão generalizada com as filas se misturando e pessoas empurrando. O fato de estar com um bebê no colo me facilitava, pois algumas pessoas, gentilmente, me deixavam passar na frente. Quando cheguei ao guichê, senti que uma mão estranha estava dentro do meu bolso esquerdo. Foi a conta de gritar que estava sendo assaltado e a mão se retirou. A sorte era que o dinheiro dos ingressos já estava nas mãos do bilheteiro, pois senão, teria voltado para casa.
                Perto das bilheterias ficavam os soldados da cavalaria com suas montarias, monitorando o movimento. Fui até um deles e comuniquei o assalto. Me respondeu que não havia o que fazer, resposta que me irritou muito.
                Entrei para o estádio e encontrei o Presidente Zezé Perrella, que sempre ficava tomando uma cerveja em um bar em frente ao portão de número dois, que era ponto de encontro dos Conselheiros do Cruzeiro e onde a cornetagem corria solta. Ele me perguntou se eu não era louco de ir ao campo com um bebê de colo, ao que respondi que era sua primeira experiência em um estádio e que já havia tido também sua primeira experiência de ser assaltado. Zezé ficou muito assustado com o ocorrido e, por coincidência naquele momento, passou o Coronel responsável pelo policiamento do estádio. Zezé chamou-o e contei o ocorrido, inclusive sobre afalta de iniciativa de seu comandado montado. O Coronel disse que sentia muito o ocorrido e que, eu deveria procurar uma delegacia e relatar o caso à Polícia.
                Naquele momento, Tiago esteve prestes de ter sua primeira experiência de ser preso, pois, incontinenti, perguntei ao Coronel onde ele havia comprado aquela fantasia de policial. Ele fez cara de que não havia entendido e, para desespero do Zezé Perrella, expliquei que, um militar fardado que me manda procurar a polícia, não devia estar vestido com uma farda e sim como uma fantasia.  Os militares acompanhantes do Coronel quiseram me prender, mas o oficial boa praça viu que eu estava muito nervoso e relevou.
                Após ter brigado com a esposa, ser assaltado e quase ser preso, subi para as arquibancadas e assisti nosso Cruzeiro escrever mais uma página heroica e imortal vencendo o Coelho, não sem antes, no intervalo ter levado o Tiago para comer um tropeirão.
                À saída do estádio me dirigi ao carro e no meio do caminho dei de cara com um arrastão. A galera me encurralou no muro e aos gritos me exigiram que passasse tudo o que tinha nos bolsos. Expliquei que não tinha nada mais, pois havia sido assaltado na entrada e só tinha o garotinho. Já no limite da paciência disse que podiam levar o garoto, pois era só o que faltava. Naquele momento, para meu assombro, chegou um malaco e me reconheceu. Disse aos colegas que eu falava a verdade, pois ele, pessoalmente, havia me assaltado na entrada e levado sessenta reais... Naquele momento entendi o significado do termo “crime organizado”!

                Enfim, foi uma estreia digna de um verdadeiro Cruzeirense. Após aquele dia, já fomos juntos ao Mineirão uma quantidade enorme de vezes e ele, antes de completar cinco anos, já tinha mais títulos importantes comemorados do que muitos times que se acham importantes!

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