Existem times que quando
jogam contra o Cruzeiro sempre mostram um desempenho maior do que o normal. A
Portuguesa, por exemplo, é um time que sempre apronta para cima do Cruzeiro. No
cenário estadual temos duas equipes que mesmo quando não estão bem se superam
quando nos enfrentam: América e o Villa Nova.
O
Leão do Bonfim, particularmente, é um osso duro de doer. Um time cascudo que
gosta de mostrar suas garras quando enfrenta a Raposa. Jogos memoráveis, já
assisti, tanto em Belo Horizonte quanto em Nova Lima. Quantas vezes tive que
sair correndo margeando o ribeirão dos Cristais com a galera de Nova Lima
correndo atrás!
O
Villa já montou vários times bravos e já se sagrou campeão mineiro em duas
oportunidades. Lançou grandes jogadores e eu poderia elencá-los aqui. Um,
porém, sempre que o via jogando, me despertava a atenção pela elegância e como
conseguia parar o ataque Cruzeirense. Lembro-me bem dele pois sempre perguntava
ao meu pai quem era aquele branquelo altão que sempre conseguia parar Palhinha,
Joãozinho e companhia, e a resposta era: Aquele é o Marquinho Central! Fiquei
sabendo recentemente que o Marquinho Central, que se chamava Marco Antonio
Aganette, faleceu em Nova Lima. Com certeza está jogando na Seleção dos Anjos!
Um
jogo que me marcou especialmente foi um que ocorreu em uma noite de quarta-feira
no Mineirão pelo campeonato Mineiro. Eu era um adolescente com 16 anos e estava
na fase áurea da paixão pelo meu Cruzeiro! Eu tinha uma bandeira de quatro
metros de cumprimento que fazi muito sucesso no Mineirão, pois além de muito
bonita, tinha uma frase escrita nela em letras garrafais: NASCI CRUZEIRO.
OBRIGADO MAMÃE!
À
época, meu irmão mais velho havia ingressado na UFMG para estudar geologia.
Muito conversado que era, fez logo muitos amigos e montou um grupo que sempre
ia ao Mineirão nos jogos do Cruzeiro em uma camionete Rural. O dono da Rural
era o Pedro Adolfo, que morava no Santo Antônio perto da Copasa. Em dia de
jogos ele pegava a camionete e ia passando na casa dos amigos que pulavam com
suas bandeiras para a carroceria. Naquele tempo carregar pessoas na carroceria
não era crime e muito menos dava multa... Assim, dia de jogo, lá ia a camionete
Rural carregada de jovens rumo ao Mineirão com muitas bandeiras desfraldadas e
hasteadas em seus mastros de bambu.
O
jogo à noite sempre começava às 20:00 hs e com isso dava tempo de voltar
correndo para casa para assistir o vídeo-tape na extinta TV Itacolomi (Sempre
na Liderança!). Comprávamos ingresso na geral e ficávamos no lado oposto das
cabines de rádio, sempre juntos à bandeirinha de córner seguindo o
ataque do Cruzeiro. Era o lugar que mais aparecida na televisão. Ficávamos ali
e depois do jogo assistíamos o VT na TV e nos divertíamos vendo a nós mesmo na
transmissão televisiva.
No
dia do jogo contra o Villa que me marcou mais, ficamos no lugar de sempre e, no
intervalo nos deslocamos, sempre na geral, para o local que ficava abaixo da
torcida de Nova Lima. Nós gritando contra os Villanovenses e eles, de cima na
arquibancada, gritando contra nós e jogando tudo o que era achado no chão em
cima de nós. Copos de cerveja, nem sempre com cerveja dentro, mamuchas de
laranja, restos de comida e o que mais aparecesse por lá. Eles jogavam e a
gente em baixo, se desviava e continuava a batalha, pois devolvíamos as
mamuchas para cima. Com o início do segundo tempo cessaram-se as hostilidades.
O
jogo transcorreu normalmente e terminou com mais uma vitória
cruzeirense.
Subimos
na Rural e voltamos para casa com a mesma alegria da ida. Passamos pela praça
Raul Soares e pegamos a avenida Bias Fortes, que era nosso caminho rumo ao
Santo Antônio. Porém, no sinal da Bias Fortes com Curitiba, paramos ao lado de
um ônibus no sinal. Qual não foi nossa surpresa de ver as portas do coletivo
abrindo e uma quantidade enorme de gente descendo e gritando: São eles! São
eles!
Só
tive tempo de pular da carroceria e sair correndo com minha bandeira, sendo
perseguido por uma quantidade enorme de villanovenses.
O
pau quebrou, literalmente, pois nossa turma pegou os bambus e usou-os como arma
de defesa. Devíamos ser uns dez contra uns sessenta novalimenses. A nossa sorte
foi que duas patrulhas da Polícia Militar, uma em uma kombi e outra em um
fusquinha, apareceram por lá e acabaram com a batalha.
Como
é bom ser jovem e cheio de vida e resistência! Corri quase até a rua São Paulo
e fui salvo pela PM! Como corri!
Ao
final da briga fiquei sabendo que fomos reconhecidos pela minha bandeira,
porque enquanto meus companheiros discutiam na geral com os rivais na
arquibancada, eu fiquei balançando minha bandeira acintosamente e fazendo
gestos para a turma lá de cima.
Bem,
no final das contas fomos liberados e os novalimenses também, cada turma
seguindo para sua casa. Imagino que a manhã da quinta-feira foi de muita
conversa e resenha em Nova Lima, com os vizinhos sabendo como os
amigos colocaram a torcida do Cruzeiro para correr. Aqui em Belo Horizonte o
assunto na UFMG foi como nove adultos e um adolescente Cruzeirenses enfrentaram
e bateram em um ônibus repleto de torcedores do Villa Nova...
Na final do Campeonato de 1997 as duas torcidas se reencontraram no Mineirão e bateram o recorde de público no estádio. O recorde tinha que ser, realmente, no encontro entre as duas torcidas mais vibrantes e apaixonadas de Minas Gerais!
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