Primeiramente devo ressaltar que se
trata de minha opinião. À medida que os anos passam, a experiência pessoal fica
mais rica, pois temos a possibilidade de relembrarmos eventos já ocorridos e
associá-los aos que ocorrem no presente. O pensador italiano Nicolò Machiavelle
pregava que a história é cíclica e se repete. O conhecimento do passado nos
permite planejar e tomar decisões para o futuro. Maquiavel (em português) é
muito mal visto pela maioria das pessoas que associam o seu nome às práticas
mais espúrias e sorrateiras praticadas pelos políticos e pelas pessoas em comum. Uma injustiça...
Quem lê seus escritos e de outros contemporâneos pode entender seus ensinamentos
e ver que ele, na verdade, foi um dos primeiros analistas de cenários
políticos.
Tenho divulgado que sou a favor da
presença das duas torcidas no estádio Independência, como fui favorável na
Arena do Jacaré. Recebo as mais diversas críticas, sempre embasadas em
problemas de segurança e da crescente violência das torcidas. Parece que ir ao
estádio está virando algo como teria sido ser voluntário para a FEB na Segunda
Grande Guerra nos idos de 1940.
Devo
usar de minha memória, que remonta aos anos da inauguração do Mineirão, que ir
a um jogo Cruzeiro x Atlético sempre foi um passeio arriscado. Posso passar
horas a fio entediando ao leitor deste texto enumerando as brigas, confusões e
rusgas que as torcidas sempre travaram no antigo Independência ou mesmo no
Mineirão.
Lembro-me
da vez que o Cruzeiro venceu o primeiro clássico logo após a decisão do
campeonato brasileiro de 1977 onde o Atlético perdeu o título invicto e na
decisão de pênatis. Naquele clássico, confeccionei uma bandeira enorme do São
Paulo e levei-a para o Mineirão. Após a nossa vitória, enquanto me dirigia ao
estacionamento, juntamente com meu pai e irmãos, fomos cercados por uma horda
de nervosos atleticanos que quiseram tomar a bandeira para rasgá-la, coisa que
não permitimos. Não fosse a diligente presença da tropa de cavalaria, o pau
teria quebrado e não sei se eu estaria aqui escrevendo este texto. Históricas
também eram as perseguições ao carismático Aldair Pinto, que se intitulava como
“Chefe da Torcida do Cruzeiro”, pela massa atleticana. Volta e meia tinha que
correr muito para se livrar de uma boa sova. Quantas vezes tive que sair de
Nova Lima atravessando o ribeirão que ficava ao lado do Alçapão do Bonfim?
Recentemente, em conversa com Marco Antônio Garcia, camisa nove do time campeão
brasileiro de 1966, foi-me revelado que, após os jogos em Sabará contra o
Siderúrgica, em caso de vitória do Cruzeiro, a ponte de acesso ao estádio era
bloqueada pelos torcedores do Siderúrgica e, a única alternativa de se sair do
Estádio da Praia do Ó era atravessar o rio Sabará com água até a altura do
peito.
Tempos
românticos, dirão alguns. Os tempos são outros, dirão mais alguns. Não sei se
quem tinha que atravessar o ribeirão dos Cristais ou o rio Sabará com água à
altura do peito achava que a violência de tal ato seria menos que hoje em dia.
A
verdade é que, se hoje há o perigo de enfrentamento de torcidas organizadas, a
solução é a de se controlar tais torcidas e excluir do estádio os vândalos que
extrapolam em seus comportamentos. Difícil? Com certeza! Impossível? De jeito
nenhum.
Quando
se há boa vontade e interesse por parte das autoridades, tudo acontece. Em 1992
houve a reunião da ONU no Rio de Janeiro onde assuntos ligados ao meio ambiente
foram tratados pelos principais líderes mundiais presentes na Cidade
Maravilhosa. Exército na rua, Marinha patrulhando as águas da baía da
Guanabara, Força Aérea vigiando os morros com constantes vôos, polícia
controlando trânsito e duas semanas de muita paz para os cariocas até então
envolvidos pelos combates travados entre traficantes... Quando se quer e se tem
vontade política... Tudo é possível.
Interessante
é que países com problemas semelhantes resolveram suas questões e hoje a
violência diminuiu bastante. Talvez o mais emblemático caso seja o da
Inglaterra que possuía os violentos “hooligans” que atazanavam a vida dos
torcedores insulares. Aconteceram episódios terríveis, como o ocorrido na
Bélgica no estádio de Heysel em 1985 na final da Taça dos Campeões da Europa
entre Juventus e Liverpool, onde morreram trinta e oito pessoas. A suspensão dos
clubes de campeonatos europeus, identificação dos líderes da baderna e a prisão
de baderneiros resultaram em um futebol com estádios menos violentos. Em dias
de jogos os baderneiros contumazes devem se apresentar a uma delegacia e lá
permanecer até o final dos jogos de seus times.
Aqui
no Brasil há a tendência de se resolverem problemas com soluções esquisitas. Se
a bebida provoca brigas entre torcedores bêbados, ao invés de retirarmos dos
estádios os infratores, proibimos todos os torcedores de beberem cerveja. É
lógico que dá certo! Sai a bebida acabam-se as brigas. Mas como fica a situação
de quem sempre bebeu sua cerveja no estádio e nunca brigou? Não seria mais
certo excluir quem causa o problema? No entorno do Independência não se pode
transitar com veículos, pois traria problemas com estacionamentos indevidos
atrapalhando o fluxo de pedestres. Pergunto: e quem tem problemas de mobilidade
ou está com tais problemas eventualmente? Não pode ser conduzido de carro até a
porta do estádio, tem que estacionar nas imediações da Silviano Brandão e
“escalar” as ladeiras que dão acesso ao estádio. Pois é. Por causa de gente que
não respeita as leis de trânsito, quem precisa do automóvel não pode usá-lo no
estádio do Horto. Não seria mais fácil e lucrativo para a prefeitura recolher
os carros que estivessem em desacordo com a lei? Não: é mais fácil proibir todo
o mundo de trafegar. Daqui uns dias, cancelarão as viagens do metrô (?) em dias
de jogos por motivo de brigas de torcidas em estações ou nas composições.
A
gloriosa Polícia Militar de Minas Gerais possui um serviço de inteligência cuja
função é antever e pesquisar possíveis problemas envolvendo a segurança
pública. Será tão difícil identificar os líderes e os mais abusados?
O
que penso é que Minas Gerais poderia dar um exemplo ao país em termos de
término da violência nos estádios de futebol. Assim como o nosso governo
estadual está brilhando com o cumprimento impecável nos prazos da reforma do
Mineirão, poderia dar o exemplo em manutenção da ordem dentro e no entorno dos
estádios. Seria muito bom mostrar para o Brasil que tal problema foi contornado
em nosso estado. A ação das autoridades de forma decidida e peremptória pode
fazer com que a ida ao estádio retorne a ser um programa familiar para todas as
classes.
Tiradentes,
o patrono da Polícia Militar de Minas Gerais, era famoso por limpar a Estrada
Real de assaltantes que infestavam o caminho novo para o Rio de Janeiro, na
região da serra da Mantiqueira, investigando os locais onde os bandidos agiam e
aplicando os rigores da lei quando os apanhava. Gostaria muito que assim agisse
a nossa corporação que tanto orgulho nos proporciona.
Terminando,
lembro que à época da Alemanha nazista havia a crença que, uma mentira inúmeras
vezes repetida, se tornaria rapidamente uma verdade. Temo que a mentira de que
a divisão do estádio Independência para as duas maiores torcidas é impossível
esteja se tornando uma verdade. Vejo isso nos comentários de vários formadores
de opinião que discorrem sobre o assunto pela imprensa, blogs e redes sociais.
Uma pena.
Meu receio por torcida dupla é justamente a segurança, mas lembrando que se alguns membros mais belicosos das torcidas quiserem brigar, eles brigarão em qualquer lugar. A preocupação maior é com o cidadão comum, que só quer ir ao estádio divertir e pode acabar se ferindo ou tendo o patrimônio atingido.
ResponderExcluirGostei bastante da exposição sobre a proibição da cerveja. Aqui punem-se os bons pela incompetência de não conseguir punir os maus.
Perfeito!
ExcluirMuitos torcedores de bem do cruzeiro foram impedidos de assistir esse clássico!
Fui para a fila uma da manhã de sexta e fiquei sem ingresso pq dezenas de fura filas da máfia compraram ingressos. Era ingresso aos montes na mão das organizadas. Em meia hora 2200 ingressos se esgotaram. Um absurdo!
Esses marginais têm que ser excluídos do cenário brasileiro. Devem ser proibidos de frequentar qualquer evento esportivo. Vão para os jogos para brigar e quem paga a conta é o torcedor de bem. Vamos perder mandos de campo! Numa reta final, teremos que jogar fora do mineirão. Algo precisa ser feito! As autoridades e os clubes precisam se mexer!