Recentemente estive na Holanda acompanhando os juniores do Cruzeiro em mais uma excursão vitoriosa. Tal excursão começou pelo Torneio de Terborg, cidade pacata que fica na Província de Gelderland, bem próximo à fronteira com a Alemanha. Uma das principais cidades de tal província é a famosa Arnhem, às margens do Rio Reno, que corta toda a Alemanha e deságua no Atlântico na costa holandesa.
Durante a Segunda Guerra Mundial a Holanda foi invadida pelos alemães e permaneceu sob seu domínio até o início do ano de 1945, quando tropas aliadas a libertaram definitivamente. Porém, em setembro de 1944, os aliados traçaram um plano desastrado que visava acabar a guerra antes do Natal daquele ano. O plano recebeu o nome de Operação Market Garden e visava tomar o leste da Holanda em uma ação de tropas aero-transportadas nas cidades de Eindhoven, Arnhem e Nijmegen. Como a região faz fronteira com a Alemanha, seria o primeiro passo para a invasão daquele país, atravessando o Rio Reno em várias pontes naquelas cidades. Paraquedistas ingleses, americanos e poloneses saltaram sobre várias divisões de elite alemãs que usavam aquela região da Holanda como ponto de descanso, quando na retaguarda. Foi um massacre.
Estando em Terborg, onde tropas canadenses enfrentaram os alemães, tomei um trem e fui até Arnhem conhecer tanto o palco das batalhas como o próprio Rio Reno. Em Oosterbeek há o museu Airbone onde o comando dos paraquedistas britânicos se estabeleceu. Fui conhecer o museu e lá fiquei sabendo sobre a existência de um cemitério militar na cidade, o Oosterbeek War Cemitery, onde mais de 1750 paraquedistas britânicos estão enterrados. O interessante é que, até hoje, em escavações feitas na região, para abertura de ruas ou construção de casas, ainda são achados corpos de soldados enterrados precariamente, sendo que os que eram paraquedistas britânicos são levados para o cemitério e ali têm o seu último local de repouso. Ou seja, a população do cemitério não para de crescer.
A população holandesa, daquela cidade, demonstra verdadeiro carinho e devoção pelo lugar, sendo que, até hoje, setenta anos depois, as crianças são ensinadas por seus pais a irem ao cemitério para que depositem flores nos túmulos brancos e iguais, em sinal de agradecimento pelo sacrifício supremo daqueles jovens ingleses.
É emocionante e dá muito o que pensar. Aqui no Brasil há muitos heróis no dia a dia, que dão a vida pelos seus conterrâneos e são festejados por pouco tempo, caindo depois no esquecimento. Há que se lembrar que na cidade do Rio de Janeiro há o monumento aos pracinhas brasileiros mortos na Italia na Segunda Guerra Mundial, com as sepulturas de centenas de heróis no sub-solo do monumento e muitas pessoas não sabem da existência de tal monumento.
Assentei-me em um dos bancos ao lado da cerca-viva que rodeia o cemitério e permaneci contemplativo por mais de duas horas. Rezei, meditei e chequei à conclusão que aquele lugar representa muito para muitas pessoas em várias partes do planeta. Ali, naquelas lápides brancas e iguais, repousam jovens que tiveram suas vidas cortadas bem em seu início. Quantos jovens, no nosso Brasil, não jogam fora as suas vidas em rotinas de vício e desperdício de saúde, atrás de diversão fácil e fútil.
Bem, penso que o sacrifício daqueles jovens não foi em vão. A democracia e a liberdade prevaleceram e valeu a meditação.
Quem quiser saber mais sobre a Operação Market Garden e os paraquedistas ingleses, é só alugar o filme "Uma Ponte Longe Demais" e ver Sean Connery no papel de comandante dos airbones!
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