sábado, 5 de maio de 2012

Os Ciscottos na Primeira Guerra Mundial!

O texto que reproduzo abaixo é resultado de uma pesquisa que fiz e apresentei aos parentes em outubro de 2006. Mostra um fato ocorrido entre os parentes que ficaram na Italia e passaram pelas agruras da Grande Guerra.
No próximo dia 02 de junho comemora-se o principal feriado patriótico italiano, o dia da república Italiana, Aqui em Belo Horizonte comemoraremos tal data no domingo dia 03 de junho com uma grande festa na avenida Getúlio Vargas na Savassi. 
Este texto é uma homenagem que presto ao meu país de origem, a Italia, de onde vieram meus ancestrais e onde ficaram tantos parentes:  
Ao terminar de escrever minha tese di láurea para meu curso de História, fui questionado sobre o porquê de não ter dedicado minha pesquisa à nossa família. Sempre respondo que o que escrevi faz parte da História de nossa família. E, afinal, quase todos nós sabemos das histórias e estórias de nossa garbosa famiglia.
Recentemente, no último fim de semana, participei do Segundo Seminário sobre a Imigração Italiana em Minas Gerais e fiquei conhecendo um importantíssimo Historiador da região do Vêneto, o Professor Emilio Franzina, que ficou muito interessado no meu trabalho e levou uma cópia para a biblioteca da Universidade de Verona, onde leciona. Me deu muitas dicas de pesquisa e estou aproveitando para descobrir coisas do arco da velha!
Rochedo de Minas está fazendo História e ganhando o mundo!
Uma pesquisa que já fiz e começou a dar resultado, foi sobre os Cescottos que ficaram na península itálica e não emigraram. Sim! Existem muitos Cescottos ainda na Província de Pordenone, Região do Friuli- Venezia- Giulia! Estão ainda em Maron di Brugnera (onde o vovô Antônio nasceu) e em cidadezinhas vizinhas.
Pensei sobre qual assunto pesquisaria e comecei a procurar os primos que lutaram nas guerras que por lá aconteceram e principalmente, quais deram suas vidas pela Pátria italiana.
O resultado foi muito legal! Descobri uma prima do vovô, que tinha a mesma idade da tia Maria (irmã do vovô Antônio), isto é, nascidas em 1871. Ela chamava-se Caterina Cescotto e casou-se com Giovanni Verardo. Moravam também em Maron e tiveram vários filhos.
Quando a Grande guerra estourou, a Itália ficou um ano neutra e em 1915 declarou guerra aos países centrais, lutando ao lado de ingleses e franceses. É bom lembrar que o Império Austro-Húngaro fazia fronteira com o norte da Itália, justamente na região onde nossos parentes moravam, o Friuli.
A movimentação foi grande na região e muitos foram se alistar e outros foram alistados na marra! Como estávamos lutando contra um vizinho, se ganhássemos pegaríamos uma parte do território deles, o que realmente aconteceu: a Itália recebeu a região do Trento e Alto Ádige que pertencia à Áustria.
Bem, entre os convocados pela Pátria estavam três irmãos filhos da prima Caterina Cescotto: Felice, que tinha o nome do tio de Caterina emigrado para o Brasil (Felice Cescotto, meu bisavô, pai do vovô Antônio), Giuseppe Riccardo e Sílvio.
O mais velho, Sílvio, nasceu em Maron em 19 de agosto de 1889 e foi o primeiro a se apresentar. Foi incorporado, como soldado, ao 116º Regimento de Infantaria no primeiro ano da guerra. Partiu para os combates no norte e, em Val d’Assa, sofreu um ferimento de bala muito sério, vindo a falecer em 29 de outubro de 1915. Deixou viúva Maddalena Piccinin.
Felice, o xará do nosso ancestral, nasceu na mesma Maron di Brugnera em 12 de maio de 1894 e foi também convocado em 1915. Foi destacado para servir no 138º Regimento de Infantaria. Menos de um ano após a morte do irmão Silvio, teve a mesma sorte: recebeu um tiro na cabeça e faleceu em 21 de junho de 1916 aos vinte e dois anos, no Altiplano di Asiago. Era um soldado Alpino. Está sepultado no Cemitério de Sasso Croce di Scaltrini, no bosque da Marcesina.
O mais novo, Giuseppe Riccardo, tinha o nome do pai e nasceu em 02 de abril de 1896. Foi também para os combates ao norte e sobreviveu à Guerra. Entretanto, devido a uma doença contraída nas trincheiras geladas da região alpina, veio a falecer em 24 de maio de 1920, dois anos após o fim dos combates.
Como podemos perceber a vida da prima não foi nada fácil! Três filhos mortos além de muitos prejuízos materiais, pois, os combates chegaram até Maron várias vezes. Os soldados austríacos reforçados pelos alemães (o famoso General Erwin Rommell comandou uma tropa lá) invadiram o Friuli após a batalha de Caporetto e depois foram expulsos pelo exército italiano. Os combates e as trincheiras se davam nos quintais de nossos primos. Se perder um filho é duro, imagine três! Acho que naqueles dias a prima deve ter sentido muita angústia e deve ter se perguntado por que não seguiu os passos da primas Maria, Luiza e Antônia que vieram para Rochedo de Minas no final da década de 1880.
Não sei se os Cescotto daqui trocavam correspondência com os de lá, mas tal acontecimento me fez pensar sobre um fato ocorrido aqui no Brasil em 1944. Meu pai contava que servia o Exército, em Juiz de Fora, no 12º Regimento de Infantaria e teve que dar baixa por insistência da vovó Maria. Em 1944, já fora do Exército, foi convocado para servir na Força Expedicionária Brasileira que lutaria na Itália contra os fascistas e nazistas. Apresentou-se em Juiz de Fora, levando a mãe a tiracolo, que desesperada implorou ao comandante da companhia onde o filho Anísio servia (Capitão Bandeira) que não levasse seu caçula para a “malledeta guerra”, pois muitos parentes já tinham morrido por lá em guerras e ela tinha medo de que, além de morrer, seu caçula poderia matar um primo no exército italiano! Foi atendida pelo capitão, que arranjou um pretexto qualquer para dispensá-lo. Porém, alguns meses depois foi convocado novamente, porém a guerra acabou.
Espero que tenham gostado da História, afinal, é o nosso sangue que jorrou em campos de batalha italianos. Viram só? Nossa famiglia tem também páginas heróicas e imortais! 
Quem tiver alguma documentação interessante sobre nossa família, como cartas, diários ou outros tipos de documentos, entre em contato comigo. Vamos fazer um levantamento legal de nossas origens! 
Um fraterno abraço,
ANÍSIO FILHO.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bom, Anísio! A história sempre é fascinante... Parabéns a toda família, italiana ou brasileira. Grande abraço.

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  3. Anisio que texto ótimo!!! Parabéns!!!
    Você poderia me dizer onde tem registros dos soldados que lutaram na primeira guerra mundial? A origem da minha família também é italiana e meu trisavô lutou na primeira guerra, mas não acho registros de soldados que sobreviveram, somente de soldados que morreram. Se você puder me dar umas dica de pesquisa serei muito grata!

    Email: polabellini@hotmail.com

    Grande abraço!

    Paula Bellini

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    1. Ciao, Paula! Verificarei os sites de arquivos e intituições militares italianas e depois te conto! O assunto guerra é uma coisa muito longínqua para a maioria dos brasileiros. A realidade de um parente ir combater, com risco real de vida, causando pavor e ansiedade para os parentes molda o caráter de muitos.

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  4. Boa noite Anísio! Parabéns pelo texto e pela pesquisa. Qual a fonte das informações? Meu tataravô também nasceu na comuna de Brugnera e segundo informações da família também lutou na Grande Guerra. Gostaria de localizar documentos oficiais sobre o fato. Se puder me auxiliar, agradeço. Abraço!

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