domingo, 4 de outubro de 2015

Sobre o fascismo em Belo Horizonte nos idos de 1923...

Um certo blogueiro escreveu, e outro exultou pois havia provas de uma edição de jornal, que dentro do Palestra Italia de Belo Horizonte, havia em 1923, simpatizantes do governo de Benito Mussolini.
Ora, não precisavam ter pesquisado tanto! Bastava me perguntar! Eu afirmaria que sim. Havia uma boa quantidade de adeptos do governo fascista no Palestra e, com certeza, nos outros clubes de Belo Horizonte, àquela época. A admiração a Mussolini e seu governo promissor, que se iniciara poucos meses antes, era global! Em todo o mundo se discutia a maneira como aquele ex-socialista de Milão endireitara a Itália após as agruras da Primeira guerra Mundial. O mundo ainda atônito com a Revolução Russa ocorrida seis anos antes, via naquele governante de gestos amplos e teatrais, com um discurso de reerguimento do antigo Império Romano como um dos baluartes contra a ação comunista que crescia por várias partes do mundo.
Mussolini e seu governo fizeram muitos adeptos pelo mundo. Àquela época, os governos centralizadores e fortes atraiam a atenção por várias partes do mundo. A Alemanha desenvolveu o seu modelo de fascismo, Portugal, Espanha, Argentina e até o Brasil com Getúlio Vargas e seu Estado Novo. Havia aqui também os Integralistas. Se os adeptos de Mussolini eram identificados por suas camisas negras, o alemães eram identificados por suas camisas cor cáqui, os integralistas brasileiros eram por suas camisas verdes.
Várias edições de jornais brasileiros anunciavam as melhorias e progressos que os italianos de Mussolini faziam. Várias instituições brasileiras adotavam modelos de administração dos italianos. A nossa Previdência Social, com seus institutos, e nossa legislação trabalhista, tiveram inspiração nos modelos italianos.
Nos idos do início da década de 1920, a partir de outubro de 1922, admirar o governo fascista não era pouco comum não. Aliás, era muito comum. A partir do final da década de 1930 e início da de 1940, quando Mussolini mostrou sua política externa se aliando a Hitler e aderindo ao eixo Berlim-Roma-Tóquio, aí sim, o mundo viu o engano da propaganda fascista e nazista.
É sempre bom lembrar que, mesmo em países extremamente resistentes a tais modelos autoritários, existiram partidos fascistas, como no caso da Inglaterra, onde os nazistas ingleses desfilavam e faziam a saudação com o braço ereto, sob a liderança de um senhor cujo filho se tornou muito famoso nas corridas de Fórmula Um.
Querer transformar a Società Sportiva Palestra Italia em um antro de fascistas sanguinolentos é querer mudar a História. Aliás, se não sabem, os italianos também ficaram famosos pela liderança no movimento sindical e pela exportação de ideias como o anarquismo. Com muita certeza, como um time oriundo de pessoas humildes e trabalhadoras, dentro do Palestra deviam existir adeptos do anarquismo e muitos líderes sindicais. A imprensa mineira também foi povoada por muitos pioneiros italianos. Minas deve muito aos italianos pelos bons jornais que tem. Aliás, há excelentes teses de doutorado sobre o assunto nos anais da UFMG. Como nos mostrou o nosso blogueiro, é muito fácil consultar. Pena que nosso amigo tostou suas pestanas apenas na procura de provas de sua sórdida teoria.
De dentro do Palestra Italia não ouvia-se conspirações. Ouvia-se o murmúrio dos planos de construção de hospitais, escolas de medicina e engenharia e arquitetura. Muitos foram os benefícios para a comunidade da nova capital que saíram do labor e genialidade dos sócios do Palestra.
Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, além de adotar um nome que representava a Pátria Brasileira, o antigo Palestra doou todos seus troféus para que o metal fosse derretido e transformado em armas para nossas forças armadas.
Comparar o passado com os olhos do presente é um erro crasso. Infelizmente as pessoas erram, ao votar, ao comprar ou vender algum bem, ao escolher o time pelo qual torce e até qual colunista lê.
Àquela época, a Itália já era muito presente em toda Belo Horizonte, inclusive nos clubes adversários. É só pegar as escalações dos vários times de futebol da capital e lá veremos vários sobrenomes italianos. Um dos mais famosos foi Guaracy Januzzi, o lendário Guará (que dá nome ao troféu da Rádio Itatiaia) e que, na década de 1930, não jogava no Palestra. No início do século, a população de Belo Horizonte possuía mais italianos e descendentes do que qualquer outra nacionalidade. Mais uma prova que já nasceu sendo o TIME DO POVO!
O que o blogueiro e seu ajudante talvez não saibam é que a atual Escola Estadual Pandiá Calógeras, nasceu, batizada pelo Governo de Minas Gerais como Grupo Escolar Benito Mussolini. Só falta acusar os dirigentes de nosso estado de Fascistas empedernidos. E, um grande presente que Mussolini deu a Belo Horizonte, foi o Colégio Marconi, um magnífico edifício que tem como planta baixa o desenho da águia fascista. Os belorizontinos devem ter ficado impressionados com o presente, e com certeza devem ter elogiado muito o gesto do ditador italiano.
Assim sendo, senhor blogueiro e senhor assistente de blogueiro, provavelmente os vossos avós devem ter discutido com os amigos sobre os progressos dos fascistas de Mussolini nos anos entre 1922 e 1930. E quem sabe, àquela época, não foram simpatizantes também...