segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Cescotto/Ciscotto - 125 anos de Brasil!

                 Em 14 de janeiro de 2014 a família Cescotto comemora 125 anos que chegou ao Brasil. Vieram de Maron di Brugnera a bordo do vapor Pacífica. Embarcaram no porto de Gênova e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, sendo remetidos à hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores em Niterói. De lá, foram embarcados em um trem da Leopoldina Railway e levados até Rochedo de Minas, àquela época distrito de São João Nepomuceno.  Na verdade, desembarcaram em uma estação de trem que existia no interior da própria fazenda, uma vez que, naquela estação, eram embarcadas as sacas de café que a fazenda produzia e eram levadas até Juiz de Fora.
                Os membros da família Cescotto chegados ao Brasil naquela data eram dois irmãos com suas esposas e filhos. O mais velho se chamava Angelo e tinha 57 anos de idade. Veio com sua esposa Maria, de 44 anos, e seus filhos Pasissina (19), Giovachinno (16), Regina (14), Pasqualle (13), Pietro (10), Benedetto (07) e Caterina (04). O casal Angelo e Maria perdeu um filho, Giovanni, que morreu durante a viagem. O jovem Giovanni era gêmeo de Bennedetto e embarcou com a família em Gênova mas, por algum motivo desconhecido, faleceu a bordo do Pacifica e teve seu corpo lançado ao mar. O outro irmão chamava-se Felice e tinha 50 anos quando chegou ao Brasil. Veio acompanhado de sua esposa Angela de 47 anos de idade. Com eles vieram sete filhos, a mais velha, com 17 anos era Maria. Depois vinham Luizia (15), Antonia (14), Giovanni Battista (11), Anna (09), Antonio (05) e Giulietta com apenas dois anos.
                A viagem durou perto de 30 dias e os passageiros eram divididos em grupos de dez, havendo um que seria responsável pelo contato com a tripulação para organizar a alimentação do grupo. As acomodações eram no fundo do barco e os italianos dormiam em beliches de quatro andares, com várias pessoas em cada cama, que constava apenas de colchão; nada de travesseiros, roupa de cama ou banho. Devido ao medo de peste, roedores e outras pragas, passavam a maior parte do dia no convés do navio expostos primeiramente ao frio do hemisfério norte (como saíram de Gênova em meados de dezembro, saíram em pleno inverno), e depois ao calor extremo do hemisfério sul. Comiam biscoitos e sopa.
Italianos no convés do navio.

                Quando chegaram ao Brasil foram direto para a Hospedaria da Ilha das Flores onde passavam um período de quarentena para adaptação ao clima e verificação do estado de saúde dos imigrantes. Eram identificados, recebiam documentos e eram encaminhados ao seu local de destino, no caso, Rochedo de Minas.
                No caso dos Cescottos foram recebidos na Fazenda do Rochedo pelo proprietário com uma demonstração dos produtos da terra e os que mais agradaram os italianos foram os derivados da cana de açucar, uma vez que havia um grande engenho de cana. Melado, garapa, a própria cana, rapadura, açúcar e todos os derivados que provocaram grande contentamento entre os recém-chegados, principalmente as mulheres que viram a possibilidade de produção de doces em geral. As frutas da região também foram apresentadas e a goiaba foi a que mais agradou. Um dos imigrantes, o chefe de um ramo da família Cescotto, Angelo, quebrou alguns de seus dentes ao confundir uma touceira de bambu com um pé-de-cana. Cortou um bambu, descascou-o e tentou comer. Também há o caso de outro que comeu uma moranga que começava a desabrochar pensando tratar-se de uma goiaba. Tiveram também o primeiro contato com o motivo de sua vinda: o café.

                É importante ressaltar: o italiano em Minas Gerais não veio substituir o escravo, isto é um erro histórico. Veio trabalhar ao lado do escravo. Com o aumento contínuo da produção de café e a extinção da vinda de negros para o trabalho nas lavouras, a maneira de complementar a mão de obra foi a importação de europeus. Os ex-escravos foram os professores e técnicos dos italianos. Cada família recebia um lote de pés de café e era responsável pela colheita, limpeza do cafezal e entrega das frutas nos pontos onde os carros de boi recolhiam a produção para ser levada aos terreiros e armazéns na sede da fazenda. O local onde a família de Felice Cescotto se instalou chamava-se Pedra do Ôco.
A colheita do café. Até as crianças trabalhavam.


A segunda geração dos Cescottos já se ocupou da operação de maquinário e criação de novas técnicas de produção. O caçula de Felice, Antonio, tornou-se o administrador geral da fazenda e chegou a tal ponto sua eficiência, que foi convidado pelo Presidente da República, Arthur Bernardes, a fazer parte de uma comissão que cuidaria da fundação da Escola Agrícola de Viçosa, hoje a prestigiosa Universidade Federal de Viçosa. Em suas viagens da Capital Federal para sua terra natal (Viçosa) Bernardes passava com seu trem pela Fazenda do Rochedo e muito se impressionava. O convite para fazer parte da comissão foi feito na cozinha da casa de Antonio, pois os trilhos da Leopoldina passavam rentes à entrada da casa. Maria, a esposa de Antonio, teve o prazer de servir um café ao Presidente da República. Quando de sua vinda a Belo Horizonte para participar de uma reunião sobre a Escola Agrícola, Antonio teve o convite de participar de uma reunião da comunidade italiana. Era o dia 02 de janeiro de 1921 e Antonio compareceu à reunião que fundou a Società Sportiva Palestra Italia, que depois se transformou em Cruzeiro Esporte Clube.
Possível foto da reunião de fundação do Palestra (do livro de Palestra a Cruzeiro: uma trajetória de Glórias) 
Hoje a família Cescotto está espalhada por grande parte do território nacional: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Mato Grosso. Já virou Ciscotto, Ciscouto e até Assis Couto. Na Itália, são poucos os Cescottos remanescentes. Em recente viagem ao país de origem, fui conhecer a terra de nossos antepassados, cuja região se chama Friuli-Venezia-Giulia. Maron di Brugnera é um distrito (paese) pertencente à cidade de Brugnera, que fica na província de Pordenone. Procurei saber sobre como era a região à época da vinda da família Cescotto para o Brasil. Ficou difícil estabelecer uma causa satisfatória, pois pude constatar que, à época da vinda, não havia desemprego e que a região estava altamente industrializada, sendo uma das mais ricas do norte italiano. Havia muitas indústrias têxteis. Talvez a migração de mão de obra do campo para a indústria, tenha impulsionado a vinda dos trabalhadores agrícolas italianos. Com certeza houve um trabalho de convencimento por parte de um representante do fazendeiro Joaquim Clemente de Campos, dono da Fazenda do Rochedo. É importante ressaltar que, o Rei da Itália, recém-unificado país europeu, somente permitiu que os friulanos viessem para Minas Gerais. Após se instalarem em Rochedo as novas gerações se espalharam pelo Brasil afora.
Na data dos 125 anos de chegada da Famiglia Cescotto ao Brasil, presto esta singela homenagem a Angelo e ao Vovô Felice que tiveram a coragem de atravessar o Atlântico e vir tentar a sorte no Brasil. Escolheram bem a região onde se instalariam, pois Rochedo, terra de montanhas, em muito lembra a pequena Maron aos pés dos Alpes. A gente mineira da zona da Mata também lembra muito os italianos friulanos. Enfim, foi uma combinação que deu certo. Colocarei algumas fotos de Maron para que os interessados possam conhecer nossa terra. Aliás, colocarei um link com uma propaganda institucional sobre a Região do Friuli-Venezia-Giulia. Vale a pena assistir e colocar o Friuli como destino em um passeio pela Italia. Quem vai a Veneza com certeza pode dar uma “esticada” até Trieste (capital da reião friulana). É como Rio de Janeiro e Niterói, uma em frente à outra.
Chegada de Maron di Brugnera

Os Pré-Alpes
Matriz de Maron
Área urbana.
Centro de Maron




Matriz de Maron com o Monumento aos soldados mortos na Primeira e Segunda guerras mundiais.
Monumento aos mortos de Maron nas guerras mundiais. Os Verardos Felice, Giovanni Ricardo e Silvio eram filhos de Catterina Cescotto. http://anisiociscotto.blogspot.com.br/2012/05/os-ciscottos-na-primeira-guerra-mundial.html