sexta-feira, 29 de março de 2013

Cruzeiro x Villa Nova, sempre uma guerra!





Existem times que quando jogam contra o Cruzeiro sempre mostram um desempenho maior do que o normal. A Portuguesa, por exemplo, é um time que sempre apronta para cima do Cruzeiro. No cenário estadual temos duas equipes que mesmo quando não estão bem se superam quando nos enfrentam: América e o Villa Nova.
O Leão do Bonfim, particularmente, é um osso duro de doer. Um time cascudo que gosta de mostrar suas garras quando enfrenta a Raposa. Jogos memoráveis, já assisti, tanto em Belo Horizonte quanto em Nova Lima. Quantas vezes tive que sair correndo margeando o ribeirão dos Cristais com a galera de Nova Lima correndo atrás!
O Villa já montou vários times bravos e já se sagrou campeão mineiro em duas oportunidades. Lançou grandes jogadores e eu poderia elencá-los aqui. Um, porém, sempre que o via jogando, me despertava a atenção pela elegância e como conseguia parar o ataque Cruzeirense. Lembro-me bem dele pois sempre perguntava ao meu pai quem era aquele branquelo altão que sempre conseguia parar Palhinha, Joãozinho e companhia, e a resposta era: Aquele é o Marquinho Central! Fiquei sabendo recentemente que o Marquinho Central, que se chamava Marco Antonio Aganette, faleceu em Nova Lima. Com certeza está jogando na Seleção dos Anjos!
Um jogo que me marcou especialmente foi um que ocorreu em uma noite de quarta-feira no Mineirão pelo campeonato Mineiro. Eu era um adolescente com 16 anos e estava na fase áurea da paixão pelo meu Cruzeiro! Eu tinha uma bandeira de quatro metros de cumprimento que fazi muito sucesso no Mineirão, pois além de muito bonita, tinha uma frase escrita nela em letras garrafais: NASCI CRUZEIRO. OBRIGADO MAMÃE! 
À época, meu irmão mais velho havia ingressado na UFMG para estudar geologia. Muito conversado que era, fez logo muitos amigos e montou um grupo que sempre ia ao Mineirão nos jogos do Cruzeiro em uma camionete Rural. O dono da Rural era o Pedro Adolfo, que morava no Santo Antônio perto da Copasa. Em dia de jogos ele pegava a camionete e ia passando na casa dos amigos que pulavam com suas bandeiras para a carroceria. Naquele tempo carregar pessoas na carroceria não era crime e muito menos dava multa... Assim, dia de jogo, lá ia a camionete Rural carregada de jovens rumo ao Mineirão com muitas bandeiras desfraldadas e hasteadas em seus mastros de bambu.
O jogo à noite sempre começava às 20:00 hs e com isso dava tempo de voltar correndo para casa para assistir o vídeo-tape na extinta TV Itacolomi (Sempre na Liderança!). Comprávamos ingresso na geral e ficávamos no lado oposto das cabines de rádio, sempre juntos à bandeirinha de córner seguindo o ataque do Cruzeiro. Era o lugar que mais aparecida na televisão. Ficávamos ali e depois do jogo assistíamos o VT na TV e nos divertíamos vendo a nós mesmo na transmissão televisiva.
No dia do jogo contra o Villa que me marcou mais, ficamos no lugar de sempre e, no intervalo nos deslocamos, sempre na geral, para o local que ficava abaixo da torcida de Nova Lima. Nós gritando contra os Villanovenses e eles, de cima na arquibancada, gritando contra nós e jogando tudo o que era achado no chão em cima de nós. Copos de cerveja, nem sempre com cerveja dentro, mamuchas de laranja, restos de comida e o que mais aparecesse por lá. Eles jogavam e a gente em baixo, se desviava e continuava a batalha, pois devolvíamos as mamuchas para cima. Com o início do segundo tempo cessaram-se as hostilidades.
O jogo transcorreu normalmente e terminou com mais uma vitória cruzeirense.
Subimos na Rural e voltamos para casa com a mesma alegria da ida. Passamos pela praça Raul Soares e pegamos a avenida Bias Fortes, que era nosso caminho rumo ao Santo Antônio. Porém, no sinal da Bias Fortes com Curitiba, paramos ao lado de um ônibus no sinal. Qual não foi nossa surpresa de ver as portas do coletivo abrindo e uma quantidade enorme de gente descendo e gritando: São eles! São eles!
Só tive tempo de pular da carroceria e sair correndo com minha bandeira, sendo perseguido por uma quantidade enorme de villanovenses. 
O pau quebrou, literalmente, pois nossa turma pegou os bambus e usou-os como arma de defesa. Devíamos ser uns dez contra uns sessenta novalimenses. A nossa sorte foi que duas patrulhas da Polícia Militar, uma em uma kombi e outra em um fusquinha, apareceram por lá e acabaram com a batalha.
Como é bom ser jovem e cheio de vida e resistência! Corri quase até a rua São Paulo e fui salvo pela PM! Como corri!
Ao final da briga fiquei sabendo que fomos reconhecidos pela minha bandeira, porque enquanto meus companheiros discutiam na geral com os rivais na arquibancada, eu fiquei balançando minha bandeira acintosamente e fazendo gestos para a turma lá de cima.
Bem, no final das contas fomos liberados e os novalimenses também, cada turma seguindo para sua casa. Imagino que a manhã da quinta-feira foi de muita conversa e resenha em Nova Lima, com os vizinhos sabendo como os amigos colocaram a torcida do Cruzeiro para correr. Aqui em Belo Horizonte o assunto na UFMG foi como nove adultos e um adolescente Cruzeirenses enfrentaram e bateram em um ônibus repleto de torcedores do Villa Nova...
Na final do Campeonato de 1997 as duas torcidas se reencontraram no Mineirão e bateram o recorde de público no estádio. O recorde tinha que ser, realmente, no encontro entre as duas torcidas mais vibrantes e apaixonadas de Minas Gerais!

terça-feira, 19 de março de 2013

Almoço com a Base e Pietro

Alguns seguidores do meu twitter se exaltam quando alguma coisa não esperada acontece com o Cruzeiro. Geralmente o alvo de tal insatisfação é o mesmo: os Conselheiros do Clube. Somos chamados de marajás, sanguessugas e outros elogios do gênero. Parece que pensam que o Conselheiro do Clube recebe benesses, tais como, não pagar ingressos, receber comissões sobre negócios ou outros benefícios. O que a maioria da torcida não sabe é que a maior parte dos Conselheiros doa algo de si para a manutenção do nosso Cruzeiro. Basicamente o que o Conselheiro mais frequentemente doa ao Clube é o seu tempo. Participar das reuniões, fazer parte de comissões temáticas e da diretoria toma tempo de qualquer um. Para participar é necessário abdicar de negócios, momentos familiares ou outros deveres e prazeres.
Muitos Conselheiros disponibilizam seus recursos ou seus relacionamentos e conhecimentos em prol do Clube.
Atualmente há um Conselheiro que tem participado muito da vida do Clube, colocando seus dotes e habilidades em prol de nosso Palestra. Tal Conselheiro é o italiano Pietro Sportelli.
Pietro é sócio do Cruzeiro desde a década de 1960 e somente no ano passado passou a ser contado entre os Conselheiros do Clube. Indicação do vice-Presidente Márcio Rodrigues, do Conselheiro Bruno Vicintin e minha também, Pietro com relutância aceitou ser Conselheiro. Tinha certa decepção em ter contribuído por tantos anos com seu Clube do coração e nunca ter sido convidado para participar da vida política do Cruzeiro. Patrocinou o Clube por várias vezes, pagou prêmios em vários campeonatos, viabilizou contratações de jogadores diversos e sempre acudiu o Pavilhão Azul nos momentos difíceis. Um patriota de verdade e um Cruzeirense sem reparos.
Ano passado, em reunião do Conselho Deliberativo, Gilvan prestou uma singela homenagem a Sportelli, entregando-lhe uma camisa autografada pelo craque Montillo.
A camisa foi entregue a um diretor da Aethra (sua empresa) pois Pietro estava em uma reunião de fornecedores FIAT em Pernambuco.
No dia 18/03/2013 o vice-Presidente Márcio, acompanhado por Bruno Vicintin e por mim, levou até a sede da Aethra a taça de tri-campeão brasileiro sub-20 e mais sete tri-campeões. O supervisor da base Claudemir Rattes apresentou a Pietro os jovens Antônio, Pedro Paulo, Lynneeker, Alisson, Vinícius Araújo, Eurico e Bruno, que tiveram a oportunidade de ouvir conselhos e recomendações do empresário que veio para o Brasil jogar futebol e se tronou o maior fabricante de sistemas automotivos da América Latina.
Esse simples gesto de fazer uma visita de cortesia denota todo o reconhecimento que o Departamento de Futebol de Base e Profissional têm em relação ao ilustre e despretensioso benfeitor. Faz parte da cultura italiana exaltar o nome de quem sempre está ao nosso lado e estende a mão.
Após tantos anos ajudando despretensiosamente, convocamos Pietro a ser mais frequente no dia a dia da base Cruzeirense, participando do trabalho de formação, não só jogadores de futebol, mas de cidadãos úteis à nossa sociedade.
Ser útil à sociedade é uma matéria que, com certeza, Pietro Sportelli poderá ensinar aos meninos que se vestem de azul para jogar, lembrando a ele suas origens italianas!

domingo, 10 de março de 2013

Embaixador da Italia ganha camisa do Cruzeiro!


Foi realizado, em 27 de fevereiro, pela Câmara Italiana de Comércio de Minas Gerais, com apoio da FIEMG, um almoço de boas vindas ao novo Embaixador da Itália no Brasil, Raffaele Trombetta, em sua primeira visita oficial a Minas Gerais.

Anteriormente ao almoço, ocorreu uma reunião de apresentação do Estado, seu cenário econômico com suas potencialidades e projetos, na qual estiverem presentes, além do Embaixador, o presidente da Fiemg, Olavo Machado; o presidente da Câmara Italiana, Giacomo Regaldo; a Secretária Estadual de Desenvolvimento Econômico, Dorothea Werneck; o Secretário Estadual de Desenvolvimento Regional e Política urbana, Olavo Bilac Pinto, o Secretário Estadual de Turismo e Vice-Presidente da Câmara Italiana, Agostinho Patrus, dentre outras autoridades. 

O almoço, que teve no cardápio pratos preparados com ingredientes típicos de Minas, como o queijo canastra, foi servido para cerca de 60 pessoas, entre elas, autoridades, empresários mineiros e italianos. O evento aconteceu na FIEMG, no edifício Robson Braga de Andrade. (fonte: Site da Câmara de comércio Italiana)


Antes do almoço foi entregue uma camisa do Cruzeiro ao novo Embaixador italiano. Como já é costume, sempre na primeira visita de um Embaixador Italiano a Minas Gerais, a diretoria do Cruzeiro, informalmente, entrega uma camisa personalizada ao representante da Pátria Italiana. Aproveitamos sempre para contar a História da saga dos imigrantes italianos que fundaram aquela que seria, atualmente, a maior glória esportiva italiana fora da Italia. Também foi presenteado ao Embaixador um livro "De Palestra a Cruzeiro" do Conselheiro Nato Plínio Barreto.

Presente ao ato de entrega da camisa estavam o Vice-Presidente do Cruzeiro Márcio Rodrigues, o Vice-Presidente do Conselho Fiscal do Cruzeiro Anísio Ciscotto, o Conselheiro do Clube Pietro Sportelli e o ex-Cônsul e atual Conselheiro da Embaixada Italiana Gabriele Annis. Gabriele foi o responsável pela reaproximação do Consulado da Italia em Belo Horizonte com o Cruzeiro.

O Embaixador ficou muito interessado em saber mais estórias sobre o Palestra Italia, afirmando que é torcedor do Napoli e que já era Cruzeirense no Brasil, tendo em vista a paixão que seu colega de Embaixada nutre pelo Clube de Minas Gerais.

 Pietro Sportelli, Gabriele Annis, Raffaele Trombetta, Olavo Machado e Anísio Ciscotto.
 Pietro Sportelli, Gabriele Annis, Raffaele Trombetta, Olavo Machado, Anísio Ciscotto e Márcio Rodrigues.



 Pietro Sportelli, Raffaele Trombetta, Olavo Machado, Anísio Ciscotto e Márcio Rodrigues.

domingo, 3 de março de 2013

A gestão profissional no Futebol. Uma boa leitura para Dr. Gilvan

A reportagem abaixo, de autoria do repórter Felipe Carneiro, deveria ser lida pelo nosso Presidente Gilvan de Pinho. Já faz muito tempo que o advirto, e a outros Conselheiros, sobre a profissionalização de cargos de direção do Cruzeiro Esporte Clube. Times que estão muitos anos atrás, em matéria de organização, estão contratando pessoas de mercado para gerirem a marca de seus clubes. O Cruzeiro que sempre foi uma vitrine no que tange a organização e controle financeiro, insiste em soluções caseiras e improvisos.
Pietro Sportelli, meu amigo e guru sempre diz que o Cruzeiro deveria ter um Conselho de Administração composto por Conselheiros e administradores profissionais pagos, inclusive o Presidente, um CEO.
Espero que Gilvan leia e entenda a sugestão e pense no assunto.
Corremos o risco de vermos a caravana dos times desorganizados passar à nossa frente e termos que correr depois a reboque. Temos know-how de como gerir um Clube com competência. Precisamos incrementar tal competência.

O conteúdo se encontra no site:
http://vejario.abril.com.br/edicao-da-semana/presidentes-flamengo-fluminense-vasco-botafogo-735049.shtml


O capitalismo entra em campo

Com mentalidade empresarial e empenho para superar velhos vícios administrativos que tanto prejudicam os clubes, uma nova leva de dirigentes esportivos age para revolucionar o futebol carioca

por Felipe Carneiro | 06 de Março de 2013
fotos Fernando LemosDa esqueda para direita - Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo: austeridade. O botafoguense Maurício Assumpção: criatividade para faturar. Peter Siemsen, à frente do Fluminense: diversificação de receitas. Cristiano Koehler: como uma grande corporação, o Vasco agora tem um CEO.


A figura do dirigente esportivo nacional sempre foi vista com desconfiança. Não sem razão, o próprio termo cartola, usado para se referir à classe, carrega uma carga pejorativa, associada a irresponsabilidade, incompetência e amadorismo — além de, em muitos casos, desonestidade. No entanto, fora dos gramados foi feita uma substituição que reacende a esperança dos torcedores cariocas. Em um movimento que se consolida aos poucos, uma nova safra de dirigentes ganha poder nos clubes do Rio. São pessoas com passagem por grandes empresas que se propõem a verter para o mundo da bola as lições que aprenderam no escritório de algumas das companhias mais poderosas do país. É natural, então, que termos característicos do linguajar corporativo, como core business, CEO, maximização de receitas e fundo de investimento em direito creditório, estejam incorporados à rotina de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Entre o quarteto, o exemplo mais destacado vem da Gávea. No fim de 2012, os sócios rubro-negros elegeram a chapa encabeçada pelo economista Eduardo Bandeira de Mello, diretor do BNDES, há 25 anos na instituição. Do grupo fazem parte nomes conhecidos do mundo dos negócios, como é o caso de Rodolfo Landim, que foi sócio de Eike Batista, e do ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni. Cabe a eles a missão de recuperar o clube mais popular do país, avariado por dívidas acima de 450 milhões de reais. Com dois meses no poder, a equipe já conseguiu ter uma dimensão do problema. "Descobrimos que o orçamento era uma ficção. Decidia-se o que fazer com o dinheiro no instante em que ele entrava no caixa, de improviso", conta um assustado Landim, vice-presidente de planejamento.

Se os executivos recém-chegados conseguirem implantar as práticas capitalistas que conhecem tão bem, já terá sido uma enorme contribuição a um meio cheio de vícios, seja por inércia, seja por falta de honradez de seus comandantes. Neste começo de gestão no Flamengo, algumas medidas já foram implementadas com o objetivo de profissionalizar a agremiação (veja o quadro ao lado). Foram criadas as diretorias de recursos humanos, marketing e assuntos jurídicos, para as quais gente com qualificação no mercado foi contratada. Tal qual numa empresa, os dirigentes traçaram metas para os funcionários, com bônus caso elas sejam alcançadas. Outra providência emergencial foi a realização de uma auditoria a fim de obter uma radiografia financeira do clube, prerrogativa fundamental para uma governança prudente. A promessa é divulgá-la a cada três meses.



Os ventos de mudança que sopram na Gávea atingem também São Januário. Para dar um basta na situação caótica em que se encontrava o Vasco da Gama, o presidente Roberto Dinamite contratou o administrador gaúcho Cristiano Koehler, que vem sendo chamado lá dentro de CEO (chief executive officer), sigla em inglês para designar o principal executivo de uma empresa. Ele chegou com plenos poderes para reorganizar o clube, que acaba de perder seu patrocínio no futebol. Sob sua alçada estão cinco diretorias recém-criadas: jurídica, marketing, futebol, administração e planejamento e finanças. Pode parecer absurdo, mas estes primeiros meses estão sendo usados para estabelecer rotinas que são básicas em qualquer padaria ou banca de jornal: sistematizar o controle do caixa, tabular as dívidas e cortar desperdícios. Koehler ficou estupefato ao tomar conhecimento de que o clube não dispunha de uma equipe própria de advogados, apesar dos mais de 400 milhões em dívidas, que pipocam nos tribunais. A cada jornada surgem mais percalços, e é preciso ter fôlego de atleta para encará-los. "Fico ao mesmo tempo no Vasco do passado, tratando da dívida, no do presente, buscando tornar o time competitivo e o clube superavitário, e no do futuro, tentando levar essa máquina a outro patamar de organização, tecnologia e gestão", resume o administrador ao dar a dimensão de seu desafio.

Com o país saudável economicamente e às vésperas de sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, o negócio futebol exibe por aqui números crescentes, que saltam aos olhos de qualquer financista. Segundo estimativa do consultor Amir Somoggi, especializado no assunto, o faturamento dos dez maiores clubes brasileiros nesta temporada deve ficar próximo de 3 bilhões de reais, quase quatro vezes mais que o verificado há uma década. A fase de bonança, no entanto, de nada serviu para equilibrar as contas das agremiações, cada vez mais no vermelho. De 2003 a 2011, esses mesmos clubes que viram sua receita crescer como nunca, paradoxalmente, acumularam um déficit de 1,1 bilhão de reais. No ranking dos maiores devedores despontam justamente Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco entre os cinco primeiros. Para virar esse jogo, a nova leva de executivos traz a esperança de uma gestão mais responsável e menos imediatista, subvertendo a máxima de que administrar um clube de futebol é um exercício diário de apagar incêndio. "Dívidas, toda empresa tem, não são o problema em si. O problema é que aqui na Gávea elas foram contraídas a juros muito altos, de curto prazo. Isso gera um custo elevadíssimo e acarreta penhoras, inviabilizando o clube", lamenta o presidente rubro-negro, Bandeira de Mello. "Em no máximo um ano, teremos tudo dentro de um cronograma de pagamento, sem surpresas como as que estão aparecendo todos os dias, e a máquina funcionará como uma empresa normal."

Além das armadilhas de ordem administrativa, outra arapuca está no caminho dos cartolas. Quem faz o alerta é o economista catalão Ferran Soriano, autor do livro A Bola Não Entra por Acaso, em que relata sua experiência como dirigente do Barcelona de 2003 a 2008, quando o clube iniciou seu grande salto financeiro e esportivo. "A gestão de um clube não é como a de uma empresa, pois os objetivos são outros. Mas muitas práticas empresariais são fundamentais, pois têm por meta garantir a eficiência dos processos e do uso do dinheiro", destaca Soriano, atualmente CEO do Manchester City, time inglês que é uma das potências mundiais. É verdade. Uma companhia exemplar é aquela que dá lucro. Em um clube, a equação envolve outro vetor, que são os títulos conquistados. Pouco adianta operar no positivo se no campo as vitórias não acontecem. Os clubes alemães são imbatíveis em termos de equilíbrio contábil, mas o modelo sempre citado pelos cartolas cariocas é o do Barcelona, que tem uma dívida de 300 milhões de euros mas fatura quase 500 milhões por ano. E, argumento irresistível, ganhou dois títulos mundiais nos últimos cinco anos. "Se o clube fosse uma empresa privada, os esportes olímpicos simplesmente seriam fechados para dar eficiência à operação, e mesmo o futebol teria um corte drástico de custos para poder se reerguer depois. Mas não podemos agir assim", afirma o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, empenhado em modernizar a gestão do Glorioso.

foto Marcelo Sadio/vasco.com.brLoja do Vasco em São Januário: o licenciamento de produtos, hoje feito de forma tímida, pode se tornar uma poderosa fonte de receita


Para manterem o equilíbrio entre despesa e arrecadação sem comprometer o investimento no futebol, os quatro cariocas seguem o mantra da diversificação de receitas. Enquanto nos principais clubes ingleses e espanhóis há um equilíbrio entre as três grandes fontes de renda — cota de TV, bilheteria e área comercial —, aqui o acordo com a televisão corresponde à maior fatia, chegando à metade do faturamento total do Flamengo no ano passado (veja o quadro acima). Entre as medidas para rechear o cofre, o Fluminense lançou o projeto sócio-torcedor, que já conta com mais de 7 000 adeptos. Na Gávea, os dirigentes empacotam ainda para este semestre um programa semelhante. Pesa contra a dupla Fla-Flu a falta de um estádio, patrimônio que virou uma valiosa fonte de dinheiro, como mostram os milionários clubes europeus e a não menos abastada Liga de Basquete Americana (NBA). Apesar de estar ainda longe de todo o seu potencial de exploração, o Botafogo fatura mais de 15 milhões de reais por ano com o Engenhão, entre publicidade, bilheteria, praça de alimentação, aluguel de camarotes e realização de eventos, como o show de Paul McCartney em 2011. De olho nesse filão, Cristiano Koehler pretende derrubar o complexo de São Januário para construir um estádio moderno no lugar. O pontapé inicial para uma nova era está dado. "É um alívio ver que os grandes do Rio estão finalmente no caminho certo", diz Fernando Gonçalves, sócio-diretor da Traffic, gigante do marketing esportivo no Brasil. Um caso raro em que os torcedores de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo têm motivo para comemorar juntos.

Cortar Custos sem mexer na qualidade
O que está sendo feito na Gávea, nas Laranjeiras, em General Severiano e São Januário dentro do choque de gestão prometido

Flamengo

Em pouco tempo, o grupo que assumiu a Gávea já fez uma reformulação administrativa do clube. Entre as novidades mais relevantes está a criação de uma vice-presidência específica para a negociação da dívida. Em nome da profissionalização, foram contratados diretores remunerados para as áreas de RH, marketing e jurídica. Tal qual numa empresa, os dirigentes estabeleceram metas para os funcionários, com remuneração variável conforme os objetivos alcançados. O presidente Eduardo Bandeira de Mello acena com a publicação de uma auditoria externa a cada três meses. Como a ordem é apertar o cinto, houve um corte de 20% na folha salarial do time, o que acarretou a perda do maior ídolo do Flamengo da temporada passada, o atacante Vágner Love, que retornou ao futebol russo.


Fluminense

Sócio de um escritório de advocacia, o presidente Peter Siemsen, no comando do tricolor desde o fim de 2010, tenta dar um choque de gestão nas Laranjeiras. Uma das medidas tomadas no seu mandato foi a separação contábil do departamento de futebol da área dos esportes olímpicos e da social. Eles pôs em curso o programa sócio-torcedor, que visa a fidelizar o aficionado que está sempre presente nas arquibancadas e explorar o potencial financeiro dessa paixão. Outra novidade foi a criação de um planejamento estratégico quinquenal, cujo objetivo é fugir do imediatismo que caracteriza as administrações dos clubes de futebol no país de maneira geral.


Vasco

O grande reforço anunciado neste começo de ano vai atuar nos bastidores. Contratado para exercer no clube a função de CEO (chief executive officer, o mais alto cargo executivo dentro de uma corporação), o administrador gaúcho Cristiano Koehler adotou como primeira medida a formação de uma equipe profissional para trabalhar em cinco áreas nevrálgicas de São Januário: jurídica, marketing, futebol, administração e planejamento e finanças. Sem dinheiro em caixa, ele planeja a criação de um fundo de investimento para a contratação de jogadores e a manutenção de jovens talentos das divisões de base.


Botafogo

Para evitar a penhora de receitas, um dos grandes tormentos dos clubes cariocas, a gestão atual deu origem à empresa Botafogo S.A., que cuida fundamentalmente da administração do Estádio João Havelange, o Engenhão. Em busca do equilíbrio financeiro, o presidente Maurício Assumpção cortou custos, sem, no entanto, mexer na folha de pagamento do futebol. À frente do Glorioso desde 2009, ele determinou que a renegociação da dívida, uma das maiores entre as agremiações brasileiras, fosse feita credor a credor. Implementou reformas na sede de General Severiano e no próprio complexo esportivo do Engenho de Dentro, por meio de parcerias, e criou uma associação encarregada de captar patrocinadores para os esportes olímpicos.